domingo, 29 de julho de 2012

AUSÊNCIAS

Há ausências que se sentem, que se impõem  muito mais que as presenças. Ecoam, gritam-nos aos ouvidos.
Cada um de nós tem os seus métodos para lidar com elas.
Ùltimanente criei um ritmo intimativo nesse sentido.
Tenho vindo a aumentar a acrobacia e a violência quase obstinada com que me entrego a esse ritmo como se fora quase uma vertigem só de velocidade e de equilíbrio.
Ausências temporais que se abandonam ao seu próprio movimento e atmosfera.
As ausências são uma espécie de distorções, de monstruosidades das presenças.
Vêm-me à memória as naturezas mortas e a sua ironia talvez porque ambas tomem um significado quase dialético e insuficiente.
Têm uma enorme força e por vezes sobrepoêm-se a tudo, mas tal só acontece porque lhes imprimimos um sentimento, quando não, gostos cruéis como se fora uma moral para os sentidos.
Há ausências tão egoístas que chegam a ser quase mais  humanistas que a dos próprios anjos.
Há ausentes que primam pelo seu instinto de celebração pessoal, como se tratassem de cultivar uma virtude.
Fingimos sempre que os ausentes não nos constrangem e que de certa maneira nos divertem, que não nos afectam, há até anedotas e aforismos aplicados à situação.
Há ausências que fazem parte  da estética de cada um e há-as tão profundas que nos fazem mudar porque nos obrigam a adaptar a novas situações.
Há ausências que nos dão tempo para ver e ouvir uma flor que morre.

3 comentários:

Helena disse...

Para que não me fique na ausência, por aqui passo num intervalo dos dias de verão com família e amigos.
Não percebi pelo texto anterior se fizeste anos agora. Se assim foi, deixo-te um beijo maior!

lua vagabunda disse...

Há.
Há mesmo.
E tb há flores que morrem e (quase) somos obrigados a ouvi-las... a senti-las!

AMEI.

Jinho gde

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

um beijo grande às duas