domingo, 1 de julho de 2012

A HISTÓRIA DOS BOLINHOS

Conheço uma senhora, casada, avó, inteligente, meiga que faz muitos bolinhos, uma espécie de almendrados para dar a toda a gente.
Ela é só por si a generosidade em pessoa. Aposentou-se e rapidamente o fazer e dar bolinhos se tornou um estilo de vida, o seu light motiv.
Chega a toda a gente com os seus bolinhos.
Os bolinhos são muito bons e não há ninguém que não goste e ela faz deste simples facto uma passagem pelo Mundo.
Adora que toda a gente lhe diga que gosta dos seus bolinhos a distribui-os por todos os que conhece ou vem a conhecer.
Não precisa de facebook para "partilhar" o que quer que seja, religiosamente  partilha tudo.
Dá e recebe afectos através deste meio.
Com ela, partilha-se dum estado de espírito permanente ligado à religiosidade que, feitas as contas, afinal tem os seus princípios.
Progressivamente foi fazendo e distribuindo mais bolinhos. Vai uma amiga levar-lhe os ovos caseiros que os trás de 15 em 15 dias de aldeia.
Ao princípio fazia-os ao fim de semana e à 2ª feira dava-os a todos os colegas de trabalho, sem excepção. Agora, depois dos filhos se terem casado e saído de casa, só com o marido, faz os seus bolinhos e distribui, seguidamente.
O que recebe disto? Afecto, lembrança.
As palavras sempre repetidas -"como são bons os seus bolinhos. Dá-me a receita?" e ela dá e explica até à saciedade como se fazem.
Toda a gente a respeita, percebem, de imediato, que estão na presença de uma boa alma.
A fama dos bolinhos passaram a ser o seu passaporte "Conheces os bolinhos da Teresa?", diz-se. Quem não conhece é mais pobre, ainda não foi contemplado, sei lá uma espécie de benção que só ela pode dar.
O seu sentido de utilidade, de tornar os outros felizes, mesmo que duma forma muito efêmera, ou se calhar não tanto assim, porque eficaz.
Não é uma conformada nem o contrário, não é uma irreverente nem o contrário, apenas contribui para o bem estar e felicidade dos outros, nem que seja por escassos momentos. A retribuição: é impossível esquecê-la quando a conhecemos.
Esta Teresa tem fama neste mundo cão e conseguiu com um gesto tão simples, aparentemente, mas tão profundo e tão carregado de dádiva, sair deste espaço em que habitamos, por vezes, para outros arremedos.
Marca decididamente a diferença e vai ficar na história dos que a conhecem pela sua bondade traduzida nos seus bolinhos.
As pessoas vão viajar com os bolinhos da Teresa, se tiverem filhos ou amigos, dão-lhes a provar e toda a gente quer mais porque os afectos viciam.
Uns simples bolinhos feitos com amor, é o seu segredo, fazem recordar uma MULHER, uma mulher diferente, que aguenta bem as incumbências que a vida lhe trouxe. Uma Mulher em que a inspiração está ao serviço dos outros. Uma Mulher que abre portas, distribuindo amor seja por quem a conhece ou não.
Não se serve dos seus bolinhos para pagar favores, são oferecidos apenas e tão só, a toda a gente que ali estiver, como dádiva de si mesma.
A sua biografia vai, por certo, passar pelos bolinhos.
Num mundo naufragado, escandaloso, parco de afectos, consumido tantas vezes pelo diletantismo ou indiferença total, há ainda quem não sendo banal, faça a diferença.
A Teresinha não é uma pessoa banal, quem tem a sorte de a conhecer percebe que está em presença duma pessoa muito especial. Ela é assim, não faz por ser assim. A sua motivação não é fazer a diferença, mas tão só mimar cada pessoa que consigo se cruze.
Indigna-se com o mundo reles e ordinário que a rodeia, analisa a percebe o que se passa à sua volta, mas  na hora de prestar depoimento sobre a sua existência, distribui carinhos, sem pedir nada em troca, ouvindo e acariciando as razões dos outros.
Agora que se fala tanto do empreendedorismo, bem se podia colocar esta história de afectos feita como ideia simpática dum caso desses, se quem a contasse, apenas a observasse pelo lado invulgar e curioso, mas ela disribui bolinhos como outros distribuem poesia e sorrisos por este mundo fora sem nada receberem em troca.
Há muitas figuras singulares, a minha amiga Teresa é absolutamente singular.
Não se pode confundir generosidade com mais nenhum substantivo, dizia-me uma amigo já falecido, porque é muito difícil encontrar alguém verdadeiramente  generoso.
Eu tenho a sorte de ter encontrado muita gente verdadeiramente generosa na vida e entre elas a minha amiga Teresa.
E agora digo eu:  Não é possível confundir generosidade com qualquer outra coisa, porque esta distingue-se à légua.
OBRIGADA TERESINHA POR EXISTIRES NAS NOSSAS VIDAS.

2 comentários:

Helena disse...

Que sorte teres uma amiga assim.

"Os afectos viciam" - esta frase vale o dia. É, digamos assim, um bom princípio de reflexão para este e outros domingos. Viciam sim!

Os afetos são o alfa e ómega da vida.

Beijo. Com afeto.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

OBRIGADA HELENA