quarta-feira, 22 de agosto de 2012

FASES

Ando numa fase em que me parece que já foi tudo dito e que nada mais resta dizer.
Falar, escutar parecem-me uma vertigem.
As palavras parecem ter deixado de possuir valor. Há intenções muito diferentes para palavras iguais. Sempre houve, dizem. Mas não com com esta intensidade. Por exemplo, a palavra DEMOCRACIA, todos nós sabemos que para alguns o seu significado é usurpação de poder.
Hoje já pouca gente pode invocar argumentos morais para falar.
Tenho a sensação que se varrermos todas as frases, palavras, letras, tudo ficará na mesma.
Não é por ser Verão que esta tépida indolência grassa.
Nunca se leu tanto, suponho. Nunca se teve acesso a tamanha informação, nunca houve tantos mestres, tantos discursos.
E não são as classes governantes as culpadas de tudo isto, de se escrever tanto e de se falar tanto e de tanto se NÃO ouvir.
Se lermos o que se disse, o que se pensou e analisou nos séculos anteriores, verificamos que tudo já foi dito, que se fizeram verdadeiras sangrias das palavras, que estas serviram para tudo, para festejar inclusivamente a alma nacional, como fez Camões ou Jaime Cortesão, este a outro nível embora.
Já ninguém impressiona o seu semelhante por falar ou pensar bem.
As congeminações tornaram-se muito fáceis.
Ninguém já estilhaça vidros ou cristais com a sua voz.
Estamos num mundo sórdido e absurdo e lembro-me de Gunther Grass no "Tambor de Lata".
Tal como ele, também não me apetece tirar conclusões e se calhar apenas servir-me dum tambor de lata como o Oskar, a personagem do seu livro, para traduzir as minhas ideias e sentimentos.

4 comentários:

lua vagabunda disse...

Não concordo qdo dizes que nunca se leu tanto... acho mas é que ninguém lê nem ouve nada... Anda tudo aos gritos e no imediatismo de opiniões.

Partilhas e mais partilhas do que alguns dos colunáveis dizem e/ou escrevem.

Ninguém quer "perder" tempo (!!!!!!!) a pensar e muito menos a discutir.

Mas esta é velhinha... já dizia o Almada! Só falta mesmo é salvar a humanidade...
E, acrescento eu, qdo toda a gente assim quiser.

Jinho grande e escreve que gosto imenso de te ler

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Não sou eu que digo, são as editoras, as estatísticas. Agora não dizem o que se lâ... essa é outra questão. Um Beijo Manelita

Helena disse...

As palavras são instrumentos. Com elas pode fazer-se tudo. Agredir, mimar, sublinhar verdades, espalhar mentiras...
Mesmo esse tambor, foi nas palavras que o encontraste...

Beijo de boa noite!

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Boa! Gosto da dialéctica. Meteste cesto Homónima. Beijo de Bom Dia. Ob por teres passado por aqui.