Há dias em que nos sentimos sem saber o que fazer. Parecemos que nem merecemos o nome nem a vitória da existência.
Assemelhamo-nos ao País, que farto duma ditadura de meio século, inventou uma democracia à portuguesa, da qual está farto também.
Merecemos a Vitória duma democracia de Abril?
Confundimo-nos com o país e tal como ele já nos sentimos confortáveis no nosso próprio corpo e alma, até que um dia tudo vai mudando por motivos vários, uns intrínsecos outros extrínsecos.
Concitamos esperanças ao longo dos anos para um dia termos uma velhice dourada ou pelo menos banhada em prata, mas tudo se vai comprometendo.
Nós somos os mesmos ao longo do tempo, mas também já somos outros, mesmo em relação a nós próprios. Claro que nascemos muitas vezes e morremos outras tantas.
Sabemo-nos no entanto, portadores dum atestado de existência mas cujas consequências são sempre imprevisíveis.
Tal como o país nem sempre temos a consistência que a nossa existência implica com paciência e calma, deveríamos começar vezes amiúde um exame aprofundado de certos defeitos, de certas fragilidades que sabemos que temos e sobretudo assumir esta maioridade com coragem e sem desfalecimentos.
Temos que ser audazes para viver a velhice. É uma idade em que já pouco nos norteamos por alguém, por isso não devemos sentir complexos de qualquer espécie.
Há quem nos conteste, sempre houve, mas é altura de internalizarmos a imagem sem intimidações exteriores, e mesmo interiores. Esse tempo já passou.
Se nos quisermos mudas/os, será sempre por opção. A nossa vitória é estarmos vivas/os, de termos chegado até aqui.
Exprimamos pois a nossa vontade geral de normalização da vida porque enquanto estivermos neste mundo seremos sempre escrutinadas/os, analisadas/os de alto a baixo e de trás paras a frente.
A vida é um imperativo vital. Dediquemos-lhe todo o nosso tempo.
1 comentário:
Escrevo-te em verso qu'assim me dou melhor.
Esta dádiva de amor fraterno e solidário
me veio ao lanche matinal e em solitário.
Triplicado em três sextilhas o que parece superior,
de rimas cruzadas no primeiro com o quarto,
interpoladas o segundo com o terceiro são parto.
Mais o quinto com o sexto é de sénior.
Tu, H não és a de Tróia. Mas sei-te bem tripeira do Bonfim.
De tertúlias vespertinas, de muito frenesim e sem fim.
Nada inconsistentes, nada de balelas ocas e nada de júnior.
Muitas começando pela do Santiago. Outras em vidas tardias.
De tao intensas e longe de saco roto. Não eram brandias.
Em fim de tarde diário mesmo com jornada aziaga.
Ou já em dias do nosso Outono. Atropelando ululantes
as vozes e as palavras dos outros. Até aculturantes.
Sinto-te por aí perdida (?), com a solidão que te apaga.
Apesar do Douro a teus pés como que “à mão de semear”
E de consolo para a vista p’rás pontes que foram de palmear.
Mas “A nossa vitória é estarmos vivas/os, de termos chegado até aqui” .
E assim nos vamos fazendo e equilibrando no “fio da navalha” .
Não querendo que nos cantem o Requiem ou nos ponham mortalha.
Falas com “Esses mortos difíceis” como se estivessem ainda de cáqui.
Compensando-te de angústias e medos de perto poder estar a negra.
Que nos leva energia, vontade e não nos descansa nem alegra.
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