terça-feira, 1 de janeiro de 2013

OLHANDO A LUA

A vida é deslumbrante e deslumbra-nos.
Olho a Lua e observo os reflexos argênteos da Lua no rio. Forma um trilho luminoso que percorre todo o rio até mim, mas sei que se alguém noutro lado bem distante estiver sentado à beira-mar a olhar para a lua cheia, o seu brilho percorrerá a imensa extensão do oceano até ela e se alguém estiver a percorrer uma estrada, sentado ao volante do seu carro o seu brilho também chegará até essa pessoa, sem deixar no entanto chegar a mim e assim para todos quantos estiverem a olhar a Lua.
Todos temos ao nosso brilho.
Todos os anos nasce um Novo Ano e com ele a esperança. Já no Natal tinha nascido o Menino na pobreza que simboliza a pureza.
Daqui a pouco vai, de novo, o Presidente da República fazer um discurso, chamado o discurso de Ano Novo, mas que seiva alimenta um discurso destes?, dum discurso que devia ser de esperança, mas que ao contrário não será senão uma torre de sombras sobre caminhos com base em percentagens de lucro por centímetro quadrado.
Vivemos tempos de trevas, com governantes sem discernimento proferindo discursos hipócritas e escuros. Falam do Preto e do Branco, só sossegam o coração desta maneira.
Dizem-nos que tem que ser assim, porque se não for assim é o descalabro.
Com o Preto e o Branco tudo está excessivamente nos seus lugares devidos. Produzem uma espécie de paralisação no espaço, como se a vida fosse a preto e branco e não houvesse cor.
Esta forma dualista de ver o mundo sempre sossegou as almas e manteve os povos na ingenuidade infantil da pureza do branco e do caos do preto, do negro. Tudo no seu sítio equilibrado e vai ser esta a essência do discurso do Ano Novo, como foi do Ano Velho do Sr. Presidente da República, que ponderou todas as possibilidades acerca de se manifestar em relação  ao O.E; o mal e o bem, mas que o branco venceu a estranha natureza do preto, do caos e assim escolheu a luz no caminho - o Branco.
O PR disse sim ao Orçamento de Estado porque dizer Não seria uma sombra em sua crença de cariz religioso/filosófico.
Ele, o PR da série dos governantes Dom Quixote tem a certeza, certezas integrais - estamos em crise e em crise tem que ser assim.
Que certezas estéreis têm os que nos governam!?
Só a incerteza é dinâmica, fecunda e reveladora, nunca as certezas estáticas.
Lembro-me de quando era pequena e frequentava o liceu e a professora de religião e moral, um dia desenhou três esferas no quadro e explicou que na de dentro estavam os pobres, na do meio, os remediados e na exterior, os ricos e que sempre foi assim e sempre assim seria.
Mas a vida é deslumbrante e um dia descobri a pirâmide que não limita o espaço como a esfera, antes aspira a ultrapassá-lo e depois veio o 25 de Abril e a seguir, passados anos  vieram Pedros ou Penedos que levam as questões até ao desenlace da facada e como dizia Teixeira de Pascoaes "detestava-os e admirava-os ao ver como é possível a fossilização em vida de uns miolos".
A vida é deslumbrante ensina-nos tudo isto e às vezes basta só olhar para a Lua.

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