sábado, 20 de abril de 2013

ACONTECE

Os acontecimentos desenrolam-se para além da vontade e do desejo, isto é uma constatação.
Ontem, por exemplo, aconteceu-me visitar uma casa que não estava no meu programa de visitas, uma casa de torna-viagem. Com este simples facto, visitei os meus antepassados, aqueles de quem descendo por parte paterna com histórias semelhantes e foi assim que fiz uma outra viagem, esta no passado e assim regressei ao musgo do tempo, sulcando as  minhas origens.
Há uma espécie de linhas invisíveis que se deslocam no tempo. Há instantes difíceis de definir. Se calhar nem é de tempo que se trata, mas de sentimento, uma espécie de fio, um fio feito de luz de cor pálida. Este fio indizível segue tempo fora só por quem o sente.
Sempre fui assim, a transcendência fascina-me em épocas absolutamente racionalistas. Vivo numa época em que é difícil estar com uma pessoa, fácil é estar com uma personagem. Trata-se de loosers e de winners. Estas personagens rodeiam-nos por todos os lados. Liga-se a televisão e lá estão elas com vozes mais ou menos apelativas de actores de telenovelas ou treinadores de futebol. Lê-se um jornal e voltamos à chungaria que ascendeu socialmente, vinda directamente das profundezas dum qualquer lugar muito abaixo de tudo, a emitirem opiniões, opiniões essas que a seguir são replicadas nas redes sociais, como o facebook.
Esta gente de geração espontânea, espalhou-se e ascendeu por todos os quadrantes. Cercaram o país todo. Assinam o acordo ortográfico; fazem auto-estradas e estradas que terminam em não-lugares, como agora se diz; dançam e gritam ao som do Tony ou Quim Barreiros, dizendo "venham vocês mais eu" já que comigo é uma palavra muito antiga para estas coreografias; constroem estâncias turísticas com campos de golfe verdes, lisos, a destruir toda a arqueologia da nossa terra. "Refundam" Portugal estas traças chamadas gente. Pretendem um país a partir do zero. Não sabem ler nas montanhas e retirar do granito imponente do Norte ou da planície do sul, as lições ancestrais que nos apontam o futuro.
Amar Portugal não é fazer diluir a língua, não é fazer um ensino fast-food, onde as crianças de tanta imagem para ilustrar as matérias, ficam com reduzidas possibilidades de ler um livro sem imagens.
E volto às minhas imagens, às imagens dos meus antepassados e ao granito e às casas e à vida que é um sonho.
Sonhamo-nos.
Os sonhos que são a vida, permitem que nos encontremos nas esquinas dos acasos.

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