terça-feira, 30 de abril de 2013

RAPOSÕES

Quem viu o filme "Sonhos" de Akira  Kurosawa lembra-se dos raposões.
O que faziam eles?
Apenas olhavam, mas com profundidade, o olhar ligado aos sentidos.
Lembrei-me disto a propósito do facebook, mas não só.
Os outros são mistérios indecifráveis para nós.
Na superfície são máscaras, mesclados de psicologias, historietas, confusões de imagens, vulgaridades.
Quando chove e faz sol, nesse tempo indecifrável em que o fogo e a água se misturam na atmosfera, esses raposões, homens de olhar apurado saem pela floresta em ritual e não há actualização do mito nesse instante porque o mito é o próprio instante em que chove e faz sol e mostra que a vida está viva.
Hoje pouca gente escuta e poucos são os que olham vasando todas as camadas e todos os pensamentos e todos os sentimentos.
E volto ao facebook por representar pedaços de espelho. Por onde quer que cliquemos encontramos outras pessoas, com as mesmas necessidades, umas vezes fugindo ao stress, como se fossem repousar do cansaço dos dias trabalhosos no "retiro espiritual" dum écran ou montando uma "barraca" na praia.
Claro que não se encontram a si, por muito que procurem.
Só nos encontramos a nós mesmos, estando com a natureza e não na natureza, contemplando-a, vivendo-a como um orvalho de bênçãos.
As pessoas não se encontram consigo mesmas porque o orgulho e a filautia cegam-nas, fechando-as no pequenino mundo das suas fantasias, no mundo cultural, num mundo que já é apenas uma remota criação de uma criação de uma criação.

Sem comentários: