domingo, 13 de julho de 2014

REFLEXÃO

Há pouco tempo para reflectir e nesta frase mais do que sempre ligo o tempo ao espaço. Demasiados acontecimentos a atravessar-nos as preocupações, os sentires.
Recordo com a ajuda duma ficha que se atravessou no meu "caminho", um parágrafo que li no "É Proibido Apontar" de José Rodrigues Miguéis, pelo ano de 1974/75:
"... e nisto  menina aponta para fora, para a estátua da Liberdade, para o sol distante, as pombas da praça, talvez para uma janela onde qualquer coisa lhe atraiu a atenção e a mão lívida, burocrática, pergaminácea do cidadão - papá estende-se num jeito de polvo a abaixar severamente o dedinho indiscreto. É proibido apontar!"
Para se reflectir é preciso tempo e espaço e disciplina, digo eu.
É preciso mastigar o que vemos e ouvimos, o que nos acontece e acontece aos outros. Parece que tudo é para ontem, não há tempo.
Ninguém tem tempo para ouvir o outro até ao fim.
Andamos há 400/500 anos a comer depressa, sem deglutir, antes que tudo acabe.
À medida que envelhecemos, as nossas reflexões transformam-se, hoje não reflicto da mesma maneira e as mesmas coisas que reflectia há anos.
A literatura tem-me ensinado a reflectir, se calhar mais que a filosofia ou até mesmo a psicologia.
Nenhum de nós tem absoluta liberdade nem para pensar, isso não existe.
Acumulamos ao longo da vida experiência e materiais e ao meditar, depuramo-los interiormente, retiramos a maior parte do osso das questões.
Reflectir é absolutamente necessário para nos tentarmos libertar de tudo o que nos infecta.
A nossa impotência advém também de muita ausência de reflexão, a maioria de nós enquanto povo, é empírico, videirinho, prático, escravo das pequenez ou porque lhe falta o dinheiro ou porque o tem demais.
Reflectir faz-nos perceber que se adoramos a perfeição nunca alcançamos nada.
Convicta estou que reflectir ajuda a acontecência a não passar de imediato a acontecimento, em especial com a nossa anuência.
Reflectir põe-nos em guarda e mostra-nos sempre que estamos em construção. Por muito que cavalguemos, não somos definitivos para sempre.

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