sexta-feira, 23 de outubro de 2009

AFASTAMENTO E GRANDEZA




Há muitos e muitos anos atrás, quando eu era pequena e depois adolescente/jovem os chefes da Nação, fosse o Presidente da República ou o 1º Ministro como hoje se diz, eram pessoas muito distantes, quase dum outro planeta, pelo menos, de outro mundo eram.


Quando eu era pequena não gostava deles porque eram chatos e faziam-me dormir. A partir dos 14/15 anos quando comecei a adquirir consciência social e política e a ouvir o que eles diziam, não gostava do que diziam.


Mas, o que hoje queria referir era sobretudo a distância a que eles se encontravam de mim, de nós e, não se pense que isso se verificava em função da minha juventude ou por ter uma avó republicana e um pai pró-comunista. Não, achava mesmo que aquelas criaturas sorumbáticas, com cara de pau ou a falar fininho, sempre vestidas de cinzento ou aproximado, eram figuras sinistras, mesmo até que não lhes conhecesse o discurso e talvez por isso, sabe-se lá, considerava-as a anos luz do povo, das pessoas, de que eu fazia parte. Eram distantes e para mim, embora não tivessem qualquer tipo de grandeza, também não os conhecia, não lhes sabia os defeitos e as virtudes, era como se não conhecesse aquela espécie, mas para algumas pessoas, em especial, para as minhas professoras, eram pessoas de altíssima grandeza.

Sempre supus que a grandeza que lhes era atribuída se devia, em grande parte, ao afastamento que essas personagens tinham do comum dos mortais.


Vem isto a propósito, da comparação com o que se passa hoje, em relação aos nossos governantes, sejam eles de que partido forem. Não os consigo achar grandes e talvez porque os sinto muito perto de mim, de nós, povo. Fazem parte de nós. Qualquer um pode ser ministro, secretário de estado ou director-geral. O povo está no poder. Todos nós conhecemos alguém ligado ao poder e mesmo aqueles que não conhecem, advinham no dos poder, características similares às suas.

Andei anos a lutar para que este simples facto se tornasse realidade. Tornou-se realidade e sinto-me decepcionada.


Será que a minha decepção não é válida? Será que o desejo não se pode constituir realidade?


Ou será, como disse ontem na "Grande Entrevista" da RTP1, o escritor Lobo Antunes que mais vale não conhecer as pessoas, referia-se a outros escritores e não só, para não haver a possibilidade dum grande desencanto advir desse melhor e mais profundo conhecimento?


A democracia é um sistema complicado, toda a gente sabe e já W. Churchill, dizia que a democracia não era um bom sistema, mas era o melhor dos menos bons.


É difícil admirar pessoas que m os defeitos e as virtudes que todos nós temos. Gostamos de

alguém que seja superior a nós, mas em democracia, como se encontram tão perto e são eleitos de dentro dos nosssos grupos de referência, conhecemo-los bem, mesmo que não pessoalmente.

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