quinta-feira, 11 de outubro de 2012

GOSTO DA BRISA NAS FOLHAS DAS ÁRVORES

A chuva volta a repicar.
O céu transforma-se e vai de plúmbeo a azul como se numa passerela estivesse.
A  água do rio mais verde do que nunca.
Olho e vejo eucaliptos, pinheiros e acácias, aqui e ali, um tufo de castanheiros carregados de ouriços.
Esta paisagem tem o seu quê de aristrocrático quando coberta de névoa.
Agora o sol aparece sobre as nuvens e corre os montes. A aldeia ao fundo sobressai.
Há uma dignidade hirta em toda a paisagem.
Não há saturação ao contemplá-la, ao admirá-la, porque a natureza e o clima encarregam-se de lhe alterar as vestes.
Cenário em contínua mudança. Gosto de ver os choupos a tremer à luz da tarde.
Há, no entanto, momentos de anárquica melancolia quando o sentimento de impotência face a todas as medidas governativas me assalta.
E penso como odeio o senso-comum, quão petrificado ele é; como odeio a corruptibilidade, as sentenças que dão; como odeio a lisonja serpenteada dos nossos PM e  MF quando vão apresentar contas a Bruxelas. Eles lançam para o Mundo o seu olhar preso, de escravos, de mil fios e cadeias.
Vulgares sim, mas não escravos penso, isso não!
Canso-me por vezes de ter coração e olhos e escuto os pássaros e chamo as árvores pelos  nomes e ouço o cair da chuva nas folhas e emigro destes severos e profundos destinos que abatem uma classe inteira, um povo inteiro, através das labaredas que continuam a sair da boca desses dragões e sonho com heróis que abatem os dragões e resgatam o povo como se fossem virgens do antigamente.
Emigro destes terríveis e sangrentos tomadores de castelos, que nos fazem feridas e  nos matam e liberto o coração de mais esta praga.
A vida também nos consente sonhar, mesmo quando nos apresenta já os espectáculos cobertos de emoções.

3 comentários:

Helena disse...

Vives num sítio bonito e gostas do outono, portanto!
Não podemos deixar que nos estraguem a capacidade de gostar do que é belo e muito menos de sonhar.

Beijos

lua vagabunda disse...

Que lindo.

Vi a paisagem e tudo... eu que imigrei mesmo!

A ti deixo um beijo

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

um beijo às duas