quarta-feira, 31 de outubro de 2012

É BOM ADMIRAR E CONFIAR

Neste pleno mar de aridez e solidão, neste tempo de maldades colectivas e monstruosas, atravessar todos os círculos e admirar alguém ou algo dá-nos vida.
O coração por instantes bate ao mesmo ritmo e somos o mesmo coração naquele momento.
É uma espécie de nos exilarmos de nós mesmos, ir para além das nossas muralhas e derrubá-las.
Largo as almas cariadas, os rugidos imensos que me fazem sentir despaisada e leio um poema, leio uma notícia que me dá conta da justiça que ainda se faz; converso com uma pessoa que me eleva e as nebulosas que sobrevoam há muito a paisagem dos meus pensamentos, desaparecem como por milagre.
Em sua vez acolhem-me estes sentimentos de admiração por aquele que abdica da sua reforma por 13 anos na AR, pela poeta que conheci no facebook e me envia o seu último livro sem nada em troca, pelo amigo(a) que se interessa por mim.
Sensações boas atravessam-me, acolhem-me, escolhem-me.
Gosto de admirar e de confiar, são dois sentimentos que me fazem bem.
Todos os dias ouço as coisas felizes e boas da vida, impus a mim mesma este exercício há muitos e muitos anos é verdade - as árvores verdes de folhas nuas, o curso do rio, manso e lindo, vejo gente a rir, gente bonita, simpática, solícita. Ainda ontem quando pretendia comprar uma pequena lâmpada para candeeiro de luz de presença, admirei os modos como os comerciantes me atenderam, com o sentido único e exclusivo de me prestar um serviço. Admirei o homem que veio até ao carro perguntando-me se aquela outra lâmpada que tinha encontrado lá nos fundos da loja, me podia servir.
Admiro mulheres e homens, jovens e menos jovens que com um sorriso nos lábios, fazem o seu e o nosso dia.
Admiro o Amor que nunca nos deixa sós, que nos vigia, que nos cerca em becos sem saída, nos fala pelas pessoas, atravessando-as.
Admiro gente simples e complexa.
Admiro artistas, ai como os admiro!
Admiro velhos e velhas, essas senhoras idosas que se mantêm sozinhas em casa dependentes da sua independência.
Admiro donas de casa que fazem todos os dias o mesmo e todos os dias conseguem ter alma para voltar a fazer o necessário e precioso para  os seus materializarem outros possíveis.
Admiro políticos honestos de todos os quadrantes, que não se vendem por um prato de lentilhas.
Admiro a Literatura, a Pintura, o Teatro, a Biologia, a Mineralogia e até o simples insecto que por mim passa no seu labor diário.
E ficam os filósofos e os poetas para último, esses sonhadores, os que se apresentam a meus olhos como um caleidoscópio criativo, os que cristalizam momentos em arte, que agarram momentos de vida, possuem-nos e devolvem-nos subtilizados e nos fazem sentir que o Mundo é composto de mudança, como dizia Camões.
Como gosto de me sentir assim, admirando gente e natureza e ser borboleta e ser gente sem ser apanhada!

4 comentários:

lua vagabunda disse...

... e serão estas as tais pequenas coisas de que falava/escrevi no teu desabafo anterior.

E existem. Felizmente. Senão o mundo era mesmo um local onde não valia a pena permanecer.

Que belo texto o teu.

Helena disse...

Admiramos coisas e pessoas muito semelhante. Há uma certa 'irmandade' ao ler-te.

Bjo de bom dia!

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

obrigada Manela

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Obrigada Helena amiga, isso eu vi logo desde o início. Trata-se de valores e princípios