terça-feira, 20 de novembro de 2012

NUMA TARDE CINZENTA O PENSAMENTO CORRE

Há um ano atrás, há 2, há 3 andava às compras por esta altura e como eu outras pessoas. Levava um carrinho com rodinhas e ia aos livros. Tinha recebido o subsídio de Natal e gastava-o inteirinho em  prendas.
Comprava livros para toda a gente e para mim também, claro está. Alguns grandeS com imagens,  livros de fotografia e pintura. Deliciava-me a ver aquelas imagens.
As bocas rosadas de Botticelli, as mulheres de Modgliani, os regimentos mortíferos de Goya e Picasso, os azuis de Chagall.
Tantos universos que trazia para casa, tantos inconformismos feitos arte. Aquelas pinceladas dadas na cara da  modelo para rematar a obra.
Esses livros eram caros antigamente, por isso eram prenda de Natal e estes mundos novos transbordavam para mim.
Há instantes difíceis de definir. Não sei se é um instante ou um intervalo entre todos os instantes, sem medida de tempo possível.
É um sentimento mais que um tempo.

Levantei-me. Fui ao jardim, levei com uma teia de aranha na cara. Antes e enquanto tentava removê-la senti o meu país revoltado, emaranhado, apanhado numa teia.
Foram linhas invisíveis que nos lançaram, quem as emitiu, sabia o que estava a fazer.
Os fios indizíveis lançados pelos todos poderosos e, quase retiraram logo de seguida.
Quanto tempo vamos levar para nos desemaranharmos da teia?
E vem-me à memória Fernando Pessoa e a Mensagem, para muitos obra menor, não sei se se menor ou maior, mas sei que Fernando Pessoa a pôs à venda no dia 1 De Dezembro de 1934 ainda estive com o livro na mão, de manhã, quando fui procurar um outro.
Foi um gesto simbólico que ele teve para realçar o seu desejo de que Portugal retomasse o seu destino nas mãos. A Restauração da Independência do País, em 1640 e como ontem ouvi todo o dia na rádio, que ligo logo pela manhã, falar-se na restauração e restauração aqui é o conjunto de pastelarias, restaurantes, cafés e afins, pensei que agora os Restauradores são as pessoas que trabalham na restauração e que a Rainha Austeridade levou a melhor sobre o feriado do dia 1 de Dezembro e podemos comemorar o dia a meter para a barriga, restaurando forças  com "fulgor baço da terra/ que é Portugal a entristecer", versos da Mensagem.

1 comentário:

lua vagabunda disse...

Sorrio da 1ª parte do texto.

Da 2ª ri-me mesmo com a teia de aranha na cara. E depois, depois fiquei triste.
Muito triste