quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

NORMALIDADE NORMAL

Neste período de Natal olho para as pessoas e surpreendo-me sempre.
Parece que tudo se parece com o ano passado ou há dois anos ou há meia dúzia, mas infelizmente não é assim.
Estamos em guerra, uma guerra misteriosa, exótica, sinistra, mas com muitos feridos no campo de batalha.
Torna-se inquietante e não raro a perplexidade me invade quando as olho e ouço falar e mexerem-se.
Um dia Agostinho da Silva disse: "se não é eleito que se eleja" quando meditava sobre a batalha de Ourique e o nosso primeiro Rei se tornou cavaleiro, isto é, elegeu-se!
Os ladrões à mão armada e desarmada assaltam-nos todos os dias, os pobres grassam, o desemprego atinge níveis assustadores, o terror instala-se e a sociedade permanece numa espécie de normalidade assustadora.
É esta normalidade patológica que me deixa atónita e horrorizada ao mesmo tempo.
Uma vez vi um filme "Forest Gump", um verdadeiro filme de terror em que um atrasado mental se tornou presidente de um grande grupo empresarial, por sucessivos acasos de vida.
O filme dá-o  como inocente e tal como uma pena ao vento voara ao sabor do acaso.
Ontem, ao viajar no Metro, olhando para as pessoas que se cruzavam nas ruas comigo, no supermercado, muitas me pareceram Jesus Cristo no alto da sua cruz, abençoando todos os atrasados do Mundo, que Deus torna Presidentes, Primeiro-Ministros ou Ministros, como no filme americano em que o protagonista se tinha tornado empresário de multinacional.
A perversidade tem várias caras e é imperioso estar atento.
Caminho pelas ruas e cada vez mais penso nesta sociedade demente, e desta vez nem é preciso ir buscar um rótulo à Semiologia Psiquiátrica,  talvez com Alzheimer, uma doença em moda, aquela doença em que a pessoa se esquece de tudo, chegando a esquecer de si próprio.
A democracia só pode viver  à custa desta desmemorização colectiva. Substituiu-se uma realidade imediata por outra. Vivemos assim há décadas em que as campanhas eleitorais são verdadeiros processos de desmemorização.
Os portugueses com que me cruzei ontem são portugueses comuns.
E o que é que um português comum deve fazer?
Deve sentar-se junto à TV normalmente, lembrando a normalidade, conhecendo o Mundo através das "noticias", dizer o que os outros dizem, mesmo não sabendo o que estão a dizer, mas se alguém genial diz que há uma crise e que tudo o que está a ser feito tem que ser feito para sair da crise é porque é e, tal como no filme, começa-se a chamar génio a alguém que é apenas deficiente e os mortos tornam-se vivos e a sociedade patológica diz-se normal.
Portanto concluo que muitas das pessoas que ontem vi não estão vivas mas mortas, mas não sabem e está tudo dentro da normalidade.
Está tudo normal porque tudo lembra a normalidade e assim será. O Renascimento foi há muito tempo, lá nesse tempo é que as pessoas queriam alargar o espectro dos seus conhecimentos mais e mais, ao contrário disso hoje chama-se génio a  um doente mental e atribui-se o prémio da Paz, a quem faz a guerra.

3 comentários:

lua vagabunda disse...

olha, este foi mesmo hoje e agorinha para ilustrar uma foto minha que servirá de perfil estes dias no facebook.

(com a respetiva identificação, claro)

Helena disse...

Hoje li um artigo de opinião de um articulista com quem estou raramente de acordo, mas que hoje me prendeu. Fala ele das intrigas sucessivas com que nos vão (e nos vamos) entretendo. Intrigas que para mais não servem, e isso já um enorme tudo, do que distrair-nos do que é essencial. Sound bites.
A propósito: qual é a intriga do dia?

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

ter estas duas comentaristas é um luxo. Obrigada meninas. E a intriga foi...?
beijinhos e durmam bem