terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O CREPÚSCULO TORNOU-SE AZUL

Vou emigrar para o reino do Sonho e deixar de ser presença de carne e osso para passar a ser esperança e imortalidade.
São estas visões que nos assaltam, feitas de associações e o seu contrário que nos revelam a intimidade.
Lembro-me de Rubens e do Renascimento. Quantos Rubens há em cada um de nós?
Dia cinzento, triste, húmido. Três amigos em camas de Hospitais com cancro, a tal doença prolongada que agora nem por isso.
Há um ano agonizava um muito querido amigo... e lembro-me de novo dos espelhos,  de Rubens, da morte e da sua representação.
Aproximarmo-nos dos mortos faz com que dialoguemos connosco e com o Outro que há em nós.
Tentamos desvelar o misterioso significado para além do campo imediato das aparências.
Olho a paisagem triste e cogito. O argumento da minha cogitação não é mais  do que a minha morte vista nos outros e volto a "estar" com o meu querido amigo que morreu há um ano, quando meia dúzia de meses antes assistiu ao funeral de um colega e me dizia:"Sabes, não quero morrer, quero viver, apesar de tudo, quero viver. Vi-me naquele caixão".
Há uma espécie de simetria entre a vida e a morte. Contemplamos a morte em vida, como se de um negativo se tratasse, participamos desta simetria.
Um melro que observo há cerca de 30/45m em cima dum poste, faz-me regressar de longe, de um lugar que não existe. Para onde vão os dias que passam? Que lugar os acolhe?   
Hora de crepúsculo neste dia  cinzento de Dezembro e por momentos a ideia de morte se ausentou  e o melro fez com que pouco me preocupasse o rodar de um mundo que parece ter perdido os seus eixos para sempre e o presente fez-se futuro que a cada instante me toca e invoca,

3 comentários:

Helena disse...

Que belo texto!
Bjo

Deixei outros comentários, mas pelos vistos não os recebeste.Também eu, às vezes, me baralho com estas coisas...

lua vagabunda disse...

Não sei. Não sei se gosto. Não me apetece gostar.

Hoje não! Não me apetece mesmo!

Voei com o melro...

Helena disse...

O meu negro melro, que bateu asas e voou?
:)8241