sábado, 24 de abril de 2010

25 DE ABRIL




Já é 25 de Abril. 36 anos volvidos.
Estamos todos contaminados, mas não esqueçamos, nascemos todos aqueles que a ele assistiram, 2 vezes que é como quem diz, só tarde tomamos consciência dum certo número de coisas.
Foi o dia das descobertas. Da descoberta primeira - afinal, éramos um povo feliz, solidário e também alegre.
Éramos todos belos e sábios porque a sabedoria consiste em contentarmo-nos e nós estávamos contentes pelo espectáculo do nosso mundo, do nosso Portugal.
Tínhamos os sentidos satisfeitos. Cumprimentávamo-nos todos como cidadãos.
Comprometíamo-nos.
Tinha-nos saído a sorte grande.
Antes fugiamos ao mundo.
....
Veio depois com o Cavaquismo a época das falsidades. Toda a gente passou a ter tudo. Dinheiro, casas, carros, viagens.
Todos adquiriam tudo com dinheiro emprestado, penhoravam anéis e dedos para a vida toda. Tudo adquiriam a preço de ouro.
Era feio dizer-se que não se vivia bem, viver remediadamente não era cool.
As coisas humildes não estavam na moda. Os portugueses tinham evolucionado para este estadio, viviam teatralmente.
Era um estranho mundo, o mundo do faz de conta.
Toda a gente se julgava superior.
Todos começaram a falar avulso. Éramos assalariados mas julgavamo-nos livres, eis o 1º erro.
As palavras não correspondiam às coisas.
...
Vieram as lojas de chineses, lojas do falsíssimo.
Todos éramos inocentes, puros, não sabíamos que o ser humano segrega o mal como as abelhas o mel e poucos de nós tinham lido o "Deus das Moscas", fábula de William Golding sobre a maldade intrínseca do homem.
Onde havia cravos vermelhos, instalaram-se mentiras.
Este mundo tornou-se Kafkiano, está para além do entendimento.
Todos, porém, colaboramos com o que nos indigna.
Faz-se o jogo repugnante dos ódios ou das amizades pessoais e não se hesita em denunciar os erros ou os desmandos da administração. Ninguém lê livros, mas todos escrevem àcerca deles.
Porém, muitas coisas foram repensadas e postas em questão, como o estatuto do saber intocável.
Todos sofrem de indiferentismo, embora não pareça.
Na frente ocidental nada de novo, como diria Miguel Torga.
O povo sem ninguém que lhe valha está mascarado, cumpre pena de vida, já que a pena de morte foi abolida há muito.
Voltamos ao tempo das invasões, com a substituição de bárbaros por corruptos de falas mansas e bem cheirosos.
Não toleremos tudo porque há tamanhos absolutos e tamanhos relativos.
Punhamos pé no presente e não nos escravizemos ao futuro.
Não tenhamos saudade do porvir que não sabemos se o vamos viver, revelemo-nos na forma como defendemos as nossas ideias.
Revelemo-nos pois. Comecemos a limpar o lodo que tudo cobre.
Celebremos o 25 de Abril AGORA.

1 comentário:

SEK disse...

Uma desilusão? Ainda a esperança de melhores dias? Haverá outra alternativa?
"O povo ..., cumpre pena de vida, já que a pena de morte foi abolida há muito."
Acabou-se aquela alegria inicial, do dia das descobertas.