terça-feira, 20 de abril de 2010

A PROPÓSITO DUMA OBSERVAÇÃO DUM GRUPO DE ESTUDANTES EM VISITA DE ESTUDO A UMA BIBLIOTECA




Estava na esplanada da biblioteca Florbela Espanca em Matosinhos e observava o comportamento de estudantes do ensino secundário sem professores por perto, escrevi isto enquanto assistia a tudo aquilo, sempre com vontade de intervir, não saí da minha cadeira, irritada e a pensar que se dissesse alguma coisa talvez...


Estamos condenados de antemão ao fracasso.
Vivemos um larguíssimo período de fraqueza tolerante, também na educação das crianças e jovens.
O futuro está a ser penhorado. Inicialmente foi negociado com a "amizade/companheirismo" dos educadores (como se fosse possível atribui-se-lhes outros papéis que não os deles e para quê, a não ser baralhar?), agora estes, pais e família nuclear inclusive, desistiram de educar, de exercer a autoridade, quer através do exemplo, quer através do amor.
As nossas crianças não adquirem conhecimentos de civilidade, de bom trato, assim podemos abdicar da esperança no futuro.
Os adultos, mesmo autoridades, que passam num jardim, vêm crianças a destruir as flores e viram a cara para o lado, não se querem incomodar.
Os miúdos andam carregados de ira, não são humildes uns com os outros, muito menos com os mais velhos, não acatam qualquer tipo de conselhos. Estão agressivos porque vivem numa sociedade agressiva. Nas suas brincadeiras entre pares, não é raro vê-los a tentar vingar-se de alguma tragédia pessoal (qual? talvez a de falta de atenção dos progenitores seja a primeira). Os pais já só tocam os filhos por aquilo que lhes compram e o dinheiro que lhes dão. Sapatilhas e "jeans" de marca, todas as novas tecnologias que saltam para o mercado, meios de afirmação das novas identidades, ao fim e ao resto.
Não há desejos proibidos, todos são consentidos, não há interditos de qualquer espécie e assim, não raro, a depressão toma conta destas jovens vidas.
Que fazer para mudar de rumo?
Os Estados e quem os governa, ocupam a família em mais e mais horas, desprotegendo o espaço familiar, retirando o já de si enfraquecido sentido de família, há muito substituído pelo computador ou televisão pelos seus membros.
Cada um se isola no seu pequeno mundo, desconhecendo o que se passa na divisão ao lado. Horários diferentes que levam à impossibilidade do convívio e do diálogo.
Os espaços de comunicação são cada vez mais inexistentes, é o caos. As pessoas dentro da mesma casa, ligadas por laços de sangue, falam linguagens diferentes e desconhecem-se mutuamente.
Salvam-se apenas os primeiros anos da 1ª infância, quando os progenitores ou quem eles incumbem, têm ainda como obrigação levar os filhos à escola e ir buscá-los.
Hoje perdeu-se a ideia de quem é o chefe da família, porque seria uma ideia ultrapassada. Defender isso seria uma ideia "descabida", seria colocar de parte o jovem, a criança, supõe-se. Retomá-la não passaria dum anacronismo arrogante.
Já não há por hábito demonstrar o afecto que sentem uns pelos outros, a não ser através do dinheiro que é dado para comprar, comprar algo e comprar almas também.
Os filhos, os pais, todos os membros da família, quando se ausentam de casa já não se cumprimentam uns aos outros, momentos denunciadores de afecto e respeito.
A loucura/irracinalidade dos sistemas económicos selvagens, leva a uma maior despesa com a saúde mental e delinquência, perdendo-se assim todo o efeito das horas extras não remuneradas para mães e pais deste mundo.
A liberdade não é pêra doce. A liberdade é uma guerra e todos fazem a guerra para a ganhar, mas da pior maneira e com armas proibidas.
A distância é cada vez maior entre gerações, se bem que a aparência seja a contrária.
Os mais velhos querem imitar os mais novos, porque ser jovem é o que está a dar.
Ser velho não vende, ser maduro é estar a caminho de ser velho e isso é uma idade (25ª) que é desvalorizada, vilipendiada, injuriada.
Os velhos são humilhados, perdem todo o valor, são grotescos, por isso também se querem apresentar como novos.
Assiste-se à fealdade das atitudes, à tirania da juventude, à falta de confiança de quem a devia possuir, à retirada de valor a quem o tem por esta sociedade guilhotinadora.
Para ascender na hierarquia, mandam as regras vigentes, que cada um engrandeça desmedidamente o seu pequenino feito, que o mostre, que minta sobre ele, que o invente. São estas a moral e a ética actuais. Inexiste o policiamento interior.
As pessoas preferem ser símbolos em detrimento de ser pessoas.
As únicas causas que movem as sociedades actuais são os lucros desmedidos mas acima deles a burrice e a estupidez supremas.
Os poucos que insistem na abertura à racionalidade, que investem no amor são apenas aceites enquanto falhados, intrusos, corridos a adjectivos.
Voltamos à barbárie dos comportamentos, mas agora doutrinários e arrogantes, estridentemente ruidosos.
Para quando o entendimento, a aprendizagem de que o bem maior, a liberdade, é feita de simplicidades, amor e respeito pelos outros?
HOJE JÁ É TARDE. AMANHÃ MUITO MAIS AINDA.

1 comentário:

SEK disse...

Tudo certo, é uma análise justa e dolorosa. É a observação da nova geração.
Mas fico inquieto. Para lá da perturbação de ter que concordar contigo, sinto-me culpado. As gerações dos anos 60, 70 e 80 conduziram a este "caos". Quando faremos o nosso exame de consciência? Quando reconheceremos que quase todos os nossos ideais foram pelo cano abaixo?
Olhamos para estes jovens e não os reconhecemos? Não são os filhos dos nossos filhos?