domingo, 4 de abril de 2010

SALVAR OS DIAS




Confiamos a salvação a escrita como Maurice Blanchot.
Com todo o tempo livre à nossa frente como ocupar o tempo?
Pensamos e lutamos para que o futuro não se transforme em passado antes de se tornar presente e sentimo-nos ricos mesmo assim - dispomos do tempo.
Lembramo-nos de sair pela janela, porém não nos esquecemos de colocar as asas previamente, agora visitamos países, terras e gente.
Aterramos onde há carne de palavras. Pertencemos ao género humano por isso temos dificuldade em suportar a realidade. Somos portugueses por isso contraditórios no nosso modo de ser.
Andamos sempre a dizer adeus aos sentimentos felizes, dispomo-nos a redimir do tudo e do nada e restituir ao real.
O confronto com a realidade quase sempre subtraída à quotidianeidade perturbadora da experiência humana sobretudo se nos reportarmos à nossa época, invadida pela vulgaridade.
Mesmo assim sendo, predispomo-nos a fazer da vida um género insubstituível e ainda somos capazes de nos questionar nas motivações, anseios, criação de ambientes, conquistas e frustrações a que a complexidade das relações humanas nos expõe.
E continuamos a dizer o nada que tudo diz umas vezes, a desmascarar outras, a romper outras tantas, renovando, aprofundando o sentido, aperfeiçoando as noções de completude e visão do mundo.
A responsabilidade de viver sem sermos cientistas, empresários ou escritores não pode ficar entregue ao desmazelo mental.
Para não praguejarmos, para não nos rirmos de ingenuidade, nem com as baterias do sarcasmo, para não estarmos à beira do stress, temos que inventar para tornarmos a vida menos aborrecida.

Sem comentários: