segunda-feira, 27 de maio de 2013

OS TEMPOS MUDARAM ou nem por isso

Em 1913 Basílio Teles dizia que a sociedade portuguesa era o palco do embate entre as duas forças sociais que identificara como sendo a burguesia e o povo.
Em termos esquemáticos, pode-se acrescentar que a religião era a força espiritual do povo, em contrapartida, a ciência e em especial as suas aplicações técnicas e práticas constituíram a força espiritual da burguesia, por via das quais alcançara progressivamente o poder, onde se mantinha como estado dominante.
Em 1923, a lição de Basílio Teles não ficou esquecido no meio intelectual portuense, onde sempre fora estimado e onde por sinal, a burguesia de há muito mostrara ter consciência de quanto podia e de quanto ciosa era dos seus direitos. Nisso se distinguira da lisboeta, onde, medrando à sombra da corte, ficara a dever ao Marquês de Pombal o salto decisivo que a amarrara à subalternidade relativa em que vivera até então.
Vem esta introdução a propósito do encontro havido esta semana no Porto, por iniciativa do Presidente da Câmara. "Rui Rio mobiliza notáveis contra a falta de respeito do Governo pelo Porto" pode ler-se no J. Público.
Em 1933 na "Organização da Democracia. Manifesto político do grupo "Renovação Democrática", refere-se que a mentalidade burguesa é obrigada a adoptar o liberalismo, claro que estou a resumir muito. Mas, em nome desse liberalismo a burguesia derrubou obstáculos "que lhe impediam o acesso ao comando político e ao direito de regulamentar a actividade económica", declarando nessa altura que o povo que "lhe conquistara a liberdade".
É interessante hoje os tais notáveis do Porto = burguesia, igualmente liberais se colocarem contra o "povo", representado aqui pelo despótico governo, também ele igualmente liberal e mais interessante ainda é verificar que quer nos idos anos 30 como agora, o que se pretende é conquistar o poder económico como norma de vida.
Até há dois anos atrás sensivelmente, a sociedade portuguesa viveu um processo conducente ao domínio da burguesia.
Foi até essa altura, à entrada da troica  edos troicanos que a sátira portuguesa, desde Camilo a Junqueira, de Gomes Leal a Bordalo Pinheiro, deixou de estar actual, já que hoje a burguesia é o próprio povo explorado.
Burguesia e povo lutam pelos mesmos objectivos e bem podem lado a lado lutarem contra os banqueiros e quem os apoia.

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