quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O MOVIMENTO DO GEOFÍSICO

Quando desemboco na minha terra, vejo o que está a mais e o que está a menos. As lojas que abriram e as que fecharam. As ruas que se rasgaram de novo e os jardins/parques que se fizeram ou não fizeram.
A minha terra tem sítios em que apetece dizer: Como isto era lindo e como está agora?
Em alguns casos foi a destruição total. Noutros, apenas a mudança, através do cimento e na maioria o esquecimento, o desleixo alterou-os irremediavelmente.
Dizia-me uma amiga no outro dia, aquando das eleições autárquicas: "O que eu queria mesmo é que eles (= autarcas) não fizessem nada durante uns anos, porque quando mexem é mesmo para estragar".
Achei-lhe piada ao desabafo, mas estou em crer que é só quase isso que devemos desejar, chegado ao ponto em que algumas cidades e não só, chegaram, como é o caso do Porto, cidade que me viu nascer.
A minha cidade hoje reflecte a decadência, quer de costumes quer de riqueza.
Andamos pela sua "Baixa" e o que vemos é confrangedor. Todo o ambiente é de "bas-fond". Parece que a Rua Escura toda desaguou na cidade. A freguesia de Stº Ildefonso, a maior da Baixa, está irreconhecível. Tornou-se um retrato da cidade.
Cheira a miséria por todos os lados, casas de chineses pululam. Até o Hotel Infante Sagres, um esteio dos bons velhos tempos, de alguma aristrocracia, se alterou, "adaptou-se" à nova cidade.
Encontramos a rua de Sta. Catarina, num dos seus quarteirões, o do Café Magestic com vida, tudo o resto está morto, descaracterizado, feio, doente, atingido de doença terminal.
Os portuenses tomaram a atitude de sair, aqueles que amam a cidade sofrem com ela, assinam abaixo-assinados, mas quase nada resolvem.
A ganância, o primado da economia sobre a ecologia a estética e o social, tem-lhe infligido duros golpes, feriu-a de morte.
O que se passa no Porto é uma tragédia.
E o pior de tudo, o pior mesmo é que as pessoas também mudaram e se mudaram.
Mas como em todas as tragédias, há sempre alguma coisa, mesmo que seja pequenina que reluz, que ficou que faz com reconheçamos onde estamos e porque estamos. No caso do Porto, no Outono, são as castanhas, o fumo das castanhas e os vendores de castanhas a darem aquela ambiência. Só isso salvou a minha ida última ao Porto e me fez estar em família.

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