quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

KITSCH OU O PAIS DO DÓ (nota mais baixa da escala musical)


2ª VERSÃO DA MESMA CANTIGA




Desembrulhemo-nos!
Quando olhamos muito bem, vemos mesmo o que queremos ver.

Vamos ver Portugal e os portugueses? Viemos de longe para ver e ouvir, perceber.

Estamos a ver por trás das auto-estradas, avenidas e alamedas, qualquer coisa de concreto.
Vemos guerras de nervos.
Vemos pancrácios aboletados.
Vemos gente com medo, com um medo terrível de se cansar.
Vemos pulhas, muitos pulhas!
Vemos jumentos disfarçados.
Vemos e ouvimos, gente a dizer vi,vi,vi e ouvi,ouvi,ouvi, sempre na subcave da sensibilidade irritada sem ir ao âmago dos problemas.
Vemos gente que não lê e por isso tem muito tempo para maldades porque enquanto se lê não há tempo para isso.
Vemos os salários tão baixos que não pode haver especialistas.
Vemos gente que não sente nada, que está alheia, que nasce alheia, que passa alheia pela vida.
Vemos muito gente a rinchar assanhada.
Vemos gente que só enche o bandulho e de tacha arreganhada, construindo a fama com grandes e pequenos cambalachos.
Vemos gente com capacidades premonitoras fantásticas que lhes permite andar sempre a vaticinar os desastres, o que lhes permite manter-se sempre na margem.
Vemos gente que cultiva a arte de não saber.
Vemos janelas cada vez mais fechadas, ninguém olha ou se põe à janela, isso é coisa do passado. Agora olham para a televisão, não olham para o mundo que passa.
Vemos gente sempre em festas e romarias e aí sim, a reagir.
Vemos gente, muita, alardeando a sua singularidade como fugindo de si própria para o infinito, como as crianças.
Vemos que as pessoas consideram que o tempo está morto, senão nunca achariam que o presente era absoluto.
Vemos um país a andar muito devagar, às vezes até parece que anda para trás, que se dedica a escutar as conversas dos outros.

E lá continua a música da realidade pimba como fundo. Os sons caem como que riscando a cor cinzenta escura dos dias de Portugal e das suas gentes.

E cada vez mais vemos nas baixas das cidades, homens sanduiches com cartazes no peito e nas costas "COMPRA-SE OURO USADO".

"Portugal doentinho sabes que a doença pode ser também uma das muitas portas para se passar para o outro lado. Sabes bem que se pode ficar absolutamente separado da vida dos outros, não sabes?"

Quem vê tudo isto?
Nós outros, pois então!
São sempre os mesmos a ver, claro está! E quem vê lá tem tempo para fazer outra coisa, não é ó Portugal?

Ai Portugal, Portugal que abrigas tanta gente Kitsch!
Tão amoroso que tu és! Tem cuidado que até podes ser levado a copiar tais exemplos.
Cuida de ti, meu querido!

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