quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

NÃO É FÁCIL





Ser-se artista é fácil. Ter o "dom" mais fácil ainda.
É estar acima, vogar nos espaços siderais. É receber os eflúvios da lua.
Não se ser artista é muito mais difícil.
Os artistas suspiram nas pausas da arte. Os outros, os não artistas suspiram na realidade envolvente.
Digamos que um não artista não toca os raios de sol da intimidade. Aquela intimidade secreta e invisível onde universos inteiros se renovam sempre.
Nós, os Não Artistas, os outros, os que ficam à porta, sofrem as explosões, tocam-nas, mas não as conseguem transformar em formas; em cores azuis, verdes, laranjas ou vermelhos; em frases/pensamento, poesia.
É muito difícil ser-se um Não Artista, embora ainda haja a música.
A música ampara-nos, faz-nos sonhar acordados enquanto assistimos, quase manietados, à passagem dos esqueletos vários da democracia, de desejos humildes que tínhamos nas grandes avenidas de esperanças e lutas várias.

Como conseguimos sobreviver a tanta desilusão, a tanta miséria, a tanto crime? Como?
Como? Não sendo artista?
Os artistas, no meio das tempestades, construem momentos de paz, percorrem a luz, criam armistícios com a violência e a angústia. Voam mais alto, pairam nas nuvens da ternura da arte.
E nós, os outros?
Sobrevivemos com o intolerável. Choramos lágrimas nossas e dos restantes pelas mesquinhezas humanas.
Estou em crer, que quase é preciso ser ARTISTA para se o não ser.

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