sábado, 6 de março de 2010

SE FOSSE OUTRA COR... COMO EU GOSTAVA



Como gostava que os dias de Portugal fossem coloridos.
Como gostava que a sujidade dos dias do meu país fosse toda varrida.
Como gostava que o meu rectângulo amado fosse um simbolismo em vez de um realismo.
Como gostava que as elites do meu país estivessem munidas de uma bibliografia antes de entrarem numa biblioteca, porque quem não sabe escolher as leituras perderá muito tempo.
Como gostava que a palavra, que é de todos os símbolos, o mais verdadeiro, fosse usada com parcimónia e verdade, que através dela fosse possível a educação e a evolução da sociedade.
Como gostava que Portugal saísse do Hospital rapidamente, do sofrimento em que tem vivido e tivesse saúde.
Como eu gostava que Portugal se conhecesse a si mesmo, olhasse para dentro de si e que resolvesse os seus problemas em face de si próprio antes de procurar resolver o problema em face da Europa.
Como eu gostava que o meu país regressasse. Temos água, temos vento, temos velas e barcos. Regressa querido país, volta para ti, vem para dentro e depois voltas, mas antes aproxima-te de ti, já chegam tantos anos de ausência.
Como gostava que Portugal ouvisse o seu canto e não fizesse ruído para o ouvir. Não falo do canto do cisne, duma sociedade a dar o último estertor, a última convulsão.
Falo do canto do silêncio, do canto do olhar intenso do pensamento, do trabalho e do descanso merecido.
Como eu gostava que o meu querido país gostasse de si e não vivesse maritalmente com o rectângulo sem dele gostar.

Eu quero um Portugal mais silencioso, mais sólido, menos indiferente, falo daquela indiferença que cerra os ouvidos do povo; que erga a voz de forma clara contra o exterior dos "ratings" ou do que for, que se erga e se deixe de andar de cócoras e aos gritos contra tudo e contra todos, que se erga das brumas, que deixe de mentir.

Como eu gostava que o meu Portugal diga não e resista a todos os FMI deste mundo, que saísse do passo em que se encontra e que se deixasse de ser vinho adamado para ter outro sabor, outro corpo, outro aroma, numa palavra, outra condição.

Em nome da estética e de tudo o resto convém que Portugal, o meu país, regresse a si próprio, que abandone o estilo da barricada.

Como eu gostava que o meu país se especializasse em justiça económica, justiça política, equilíbrio social, ascensão à cultura, que abandonasse interesses e "offshores", que abandonasse o reino do Mal e construísse o reino do Bem.

SONHAR EU POSSO E IMAGINAR TAMBÉM.

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