quarta-feira, 3 de março de 2010

HÁ PESSOAS QUE SOFREM PARA ALÉM DO QUE É DEVIDO





A dor chegada ao paroxismo.

Para esta gente que após um terremoto ou um maremoto ou as duas coisas se vê privada de tudo, comida, casa, bens, segurança, lutos que não podem fazer, tudo mesmo.
Esta gente que tem de sobreviver, mas nem comida tem, que nem tão pouco consegue chorar, a toda esta gente venho pedir perdão por ter momentos de queixume e venho agradecer por me darem lições de vida.
Tenho de me proibir de me contorcer, de falar de dores.
Venho pedir desculpa pelo meu país que desbarata o tempo em insignificâncias, fingindo dor onde não há realmente.
Dores a sério são estas que as pessoas sofrem com as catástrofes e tragédias, sentindo-se completamente impotentes.
Partilho em silêncio o seu sofrimento.
Para esta gente que tem que recorrer a todos os mecanismos de esquecimento em simultâneo e pô-los a funcionar em pleno e não tem o direito de se deixar amodorrar nem que seja numa cadeira, vai a minha homenagem e o meu reconhecido agradecimento.
Todos eles me situam, me relativizam.
No Chile o terremoto, mais manifesto na cidade de Concepción, não atingiu só os pobres, todos ficaram sem nada. Ouvimos pessoas que viviam bem, a procurar responder às perguntas jornalísticas, a solicitarem ajuda, comida, protecção, entregues completamente à luta pela sobrevivência, perdidas, ausentes de si e de tudo. Dói, dói muito. Há, inclusive, pessoas desesperadas que se tornam de delinquentes de ocasião e há aquelas que mesmo nestas alturas continuam intransigentes na sua decência. Todos eles deixaram de ter a sua reserva de segurança.
Claro que nenhuma pessoa é fundamentalmente oposta a outra pessoa, qualquer que sejam as aparências contrárias.
Como dormirá esta gente, deitada sobre a saudade de tudo o que perdeu para sempre?
Não há ninguém que lhes/nos possa responder, penso.
Tudo se subverteu.
A cidade morreu. Procuram um outro caminho o da salvação.
É evidente, que mais tarde, no moer dos dias, as recordações virão, ora em cachão, ora espaçadas e escondidas.

Que desespero, que solidão brutal!

No meu cérebro a ideia de fronteira, já tão apagada, deixou mesmo de existir. Este Inverno inclemente, deu-lhe a machadada final.

1 comentário:

SEK disse...

Como podes relativizar a tua dor? Por muito que sintas a dos outros, a de todo o mundo, a tua será sempre a mais importante. É injusto? É! A nossa lucidez atormenta-nos com a nossa insignificância. Pior, sofremos as nossas dores e as que imaginamos dos outros desafortunados. Cada uma à vez, não seria suportável um conjunto.
Quando a tua dor desaparecer, terás maior capacidade para a dos outros. Egoísmo? Não! A tua disponibilidade melhorá sem essa chaga.

Beijo. Eu sei que não publicas ;-))