domingo, 21 de março de 2010

TODOS OS BURACOS

É exactamente isso o que estás a pensar.

Há mais buracos neste país, refiro-me aos diversos desaparecimentos de processos que se verificam, por exemplo, aquele em que falava da isenção do IVA do prédio em que Sócrates comprou o andar, o desaparecimento das fotografias dos violadores de casapianos, o desaparecimento da carta da família pedindo à Direcção da escola em que aquele professor que se atirou da ponte 25 de Abril por não poder suportar os maus tratos de que era sistematicamente e impunemente vítima, trabalhava. Vem isto a propósito duma crónica do jornalista Manuel Pina no JN em que diz que já ninguém reage a mais uma notícia que anuncie estranhos desaparecimentos de documentos.
Políticos, figuras públicas, banqueiros, autarcas, políticos e todos os seus acólitos desfiguram a realidade, munem-se de uma sensibilidade nervosa.
Vivemos anos de delinquência.
Os documentos, as provas são sugados. Há como que uma espécie de assalto à nossa memória futura que ruma ao arquivo morto. Se um dia for descoberta será maior que a Torre do Tombo e muito falará do povo que somos. Há uma espécie de palco em que todos reconhecem no outro uma necessidade que complementa a sua.
Há interesses mútuos nestes silêncios que são garantias para o estabelecimento duradouro destes desaparecimentos.
Todos dependem uns dos outros, hoje silencio eu, amanhã silencias tu, temos que ser uns para os outros.
Afinal, verificamos atónitos que o segredo não é desprezado, em certos casos, aqueles e tão só que convenha calar.
A lista de dependências e de dependentes alastra e mesmo aqueles que gritam de protesto, apenas fazem que gritam. Gritam sem protestar.
A arte do fingimento e da subtiliza campeia, claro que tudo isto leva à aspiração de viver no mundo, e ao mesmo tempo, não viver nele, e desapegar- mo-nos totalmente, como forma de encontrar técnicas de sobrevivência.
Quase todos são parecidos com quase todos.

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