quinta-feira, 13 de novembro de 2014

OBSCURIDADE

Há dias em que só nos apetece escrever frases sobre o desamparo.
Mais um amigo entre a vida e a morte. Dói-me o coração. O coração dói e muito.
E continuo sempre a escrever sobre este tema inacabado que é a vida.
Está aí a chegar o Natal, aquela época em que nos lembramos dos que não estão. Quase todos os que gosto morreram por esta altura.
Se por temperamento sou pensativa, nestes meses sou-o ainda mais.
Esquecemo-nos para sempre da maioria das coisas que vivemos e isso ajuda-nos, eu sei.
Chegou o momento de me rearmar de toda a sensatez, daquela que sempre detestei mas que às vezes tenho que resgatar do mais fundo do meu espírito para corrigir épocas idiotas.
Nasci no ano em que o Presidente da República Higino Craveiro Lopes sucedeu a António Óscar de Fragoso Carmona.
Lembro-me de ser menina e o meu avô materno ter morrido e por consequência nunca mais ter vestido o meu casaco comprido vermelho de capuchinho, um enorme desgosto e lá vêm as emoções antigas que me impõem estórias cheias de sombra e luz bem guardadas.
O passado nostálgico passa por mim. É muito matreiro o nosso passado, em certas horas só deixa ver o que lhe interessa que nos comova.
Lembro-me duma definição de democracia que o meu avô quase recitava, ele que já tinha passado por uma Presidência democrata, a do Afonso Costa: democracia é usar o dinheiro dos outros em benefício próprio ou dos seus e preparar o caminho para as suas gentes os substituírem no poder.
Lembro-me das refeições de cabrito assado com batatas assadas e arroz branco seco com batatas assadas no forno que se fazia ao domingo. Ao domingo era sempre assado, peixe ou carne, havia até um peixe chamado capatão se a memória me não trai, que se usava muito ao domingo. Sinto o cheiro desse peixe e o gosto.
Pronto e hoje, agora, fico-me por aqui, consegui por momentos conforme me propus, ser sensata e não pensar na morte que bate à porta dum amigo, quero esconjurá-la, porque a vida é composta de lugares fundidos uns nos outros e os pensamentos também.
Agora  veio-me ao pensamento algo lido, aquele Caio Vetúlio romano que foi derrotado por Viriato. Não sei se estava sol se estava chuva, um dia como hoje, tenebroso.
Acho que é neste acontecimento que me vou deter nos próximos minutos  ou talvez como é que os mouros entraram cá e depois nos civilizaram à sua maneira.

Sem comentários: