segunda-feira, 24 de novembro de 2014

SEM ESTADOS DE ALMA

Só algazarras. Estamos permanentemente envoltos em barulho. As aldeias já não escapam a estes barulhos difusos. As redes, facebooks & outros estão carregadas de barulho, deixam no ar desperdícios de palavras, sílabas sem préstimo.
Preciso de silêncio, gosto de silêncio, por isso gosto de serras e montes.
Precisamos de encontrar o que perdemos dentro de nós próprios, colher a rede todos os dias, mas para isso precisamos de ganhar silêncios. Felizmente tenho essa possibilidade, esse luxo ao meu alcance.
Hoje, com esta idade e saber da experiência feito (?), vejo pessoas a andar como se fossem a correr. A maioria não corre para salvar a honra que nem tão pouco conhece o significado.
A maioria são cavaleiros inexistentes, recordo aqui o título dum romance de Italo Calvino, "O Cavaleiro Inexistente".
Muitos deles fazem-me lembrar enxames de infantaria que pilham tudo por onde passam onde quer que se encontrem.
Há batalhões de pessoas por esse mundo fora que existem mas não sabem que existem.
Com o silêncio aprende-se que nem tudo tem que ter um sentido.
Aprende-se que o sofrimento não acaba.
Aprende-se "que o que não me contam eu não sei" e "o que não sei não me assusta".

Entretanto o dia nasce azul lá fora, para dentro em breve se transformar em cinzento.
Faço este interregno na escrita reflexiva diária, para melhor ouvir o canto dos pássaros e encher os pulmões e ouvidos deste silêncio que canta.

Cada vez mais me interesso menos pela informação actual, a tal de minuto a minuto, que os meios de comunicação  tanto gostam de fornecer para darem a ideia que informam, desinformando.
Cada vez mais me interesso pelo global, assim como uma espécie de interesse pelo movimento do geofisico que sai da Terra para melhor a entender.
Interessa-me igualmente o passado, a História que é a sombra dos povos, para melhor compreender a actualidade e os seus males.
Titulei o escrito de hoje 'sem estados de alma', uma provocação a mim própria.
A palavra "alma" é já uma velharia considerável nem os teólogos a utilizam.
Andei muito tempo a discutir o que era a alma e o que ela representava com um amigo já falecido, fazia questão de ilustrar a nossa ignorância sobre a matéria, invocando-a.
Dizia eu que era preciso cuidar da alma para se perceber a contradição entre o que se diz e o que, realmente, nos acontece na intimidade.
O meu amigo não acreditava na "existência da alma" e eu ripostava perguntando-lhe como é que ele podia entender a  mediocridade das pessoas se não cuidasse todos os dias da alma? 

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