quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

PORQUÊS DA ESCOLHA?




Como se escolhe? Porque se escolhe?
A escolha é uma decisão. A nossa relação com a decisão nem sempre é pacífica. Para alguns até ao acto da decisão é um período de enorme ansiedade porque a escolha trás, em si, o medo do erro.
Decidimos ir dar um passeio em vez de ficar em casa, decidimos um título para uma fotografia ou como se chamar a nossa croniqueta. Quando a lemos de novo, pensamos que lhe poderíamos ter dado outro título. Então porque decidimos aquele naquela altura?
Naquele dia, naquele momento, fizemos aquela escolha, mas noutra ocasião poderíamos fazer outra.
Há uma certa volubilidade nas escolhas mas também existe uma espécie de chamamento para certas decisões.
Algumas delas são feitas por necessidade, outras são irreflectidas e vorazes, outras ainda são levadas pelo influxo dos sentimentos, mas todas trazem a marca das nossa personalidade, não há escolhas puras, anódinas.
Colocamos um nome a uma fotografia por exemplo, esse nome vai reflectir o que nós pensamos até àquele momento, fruto do vivido e experienciado e condicionar, em simultâneo, o que os outros pensam.
Se fizermos a experiência de não atribuir qualquer título, surpreendemo-nos, ficamos perplexos com o que os outros pensam ou viram naquela foto.
É estranho o processo para a escolha dum título, agora levemos este processo até à escolha duma sentença, seja ela política ou judicial ou mesmo clínica. Desde que nos levantamos até que nos deitamos fazemos escolhas. A vida é feita de escolhas, só em bebés não o fazemos, utilizamos apenas reflexos.
A escolha implica cognição, reconhecimento, memória e muitas outras características de que os bebés apenas possuem o potencial.
Quando há muitas direcções a seguir e nos sentimos numa encruzilhada, temos que orientar a nossa escolha, optar por uma e não por outra, é sempre um processo de invenção e de transformação e não raro de algum sofrimento.
No que respeita aos escritos, há-os elásticos, que tanto podem ser uma coisa como outra, por isso colocamos-lhe um título para que obedeçam e sigam um caminho, o caminho do autor, o mesmo acontecendo à fotografia, mas quem lê ou vê, pode pôr-lhe outro, como é óbvio.
Não nos esqueçamos que, às vezes, dar um título é roubar algo do que lá está, é reduzir, é fazer com que o todo quase deixe de existir.

1 comentário:

SEK disse...

Gosto muito deste texto. Sinto estas palavras como uma experiência minha. Atormenta-me a escolha. Tomar uma opção é sempre descartar todas as outras hipóteses. Quantas seriam mais válidas?
Sim, "dar um título é roubar algo do que lá está, é reduzir, é fazer com que o todo quase deixe de existir.", mas, muitas vezes, é a única indicação da leitura que pretendemos.
Os meus parabéns pelo teu blogue.