domingo, 10 de junho de 2012

A INFELICIDADE EVOLUÍU

Voltamos ao antes do 25 de Abril? Parece, embora com a diferença de termos muitas auto-estradas e muitos carros e muitas propriedades privadas e viagens a crédito e muitos electrodomésticos, a maioria tem duas e três televisões, e muitas coisas inúteis, muito consumismo. Fomos colonizados pela lógica do consumo.
Antigamente era a classe social que ditava o consumo, hoje é o indivíduo que quer estar bem consigo próprio, bonito, é a identidade individual que conta.
Vivemos uma época que nem a política nem as tradições, contribuem para a formação da identidade, mas sim o consumo.
Hoje o sofrimento é para os pobres talvez maior, ouso dizê-lo. São hiperconsumidores, assim os fizeram, não querem apenas comer, querem marcas, aspiram ao que vem na publicidade, nos centros comerciais e na televisão.
Gilles Lipovetsky explica isto dizendo que antes a cultura de classe fechava as pessoas no seu mundo, interiozavam a pobreza, pensavam: "Aquilo não é para mim", hoje já não se verifica isso.
Se não puderem ter o último telefone da moda sentem-se miseráveis. As pessoas são mais infelizes agora, mesmo com mais bens à sua disposição.
As pessoas têm grandes expectativas para as suas vidas e estas não se cumprem.
Há muita revolta, muito medo e também muita devoção à arte do deixa andar.
Passados que foram os tempos de irreflexão, das viagens ao México, dos patos brancos sobre a Pr. de S. Marcos, ainda no ano de 2000, recordo-me ouvir  mais um relato das  viagens de funcionárias administrativas após férias.
Era o tempo de tudo é possível, em que tudo fica bem e nada parece mal. Tudo vestido de igual.
Estamos diante da submissão total da revolta à globalização da banalidade, para não esfolar o cérebro, o que conta é não dizer asneiras, nem alterar o tom de voz, é preciso darmo-nos bem com todos. Está-se no tempo do absurdo, da individualização, da insipiência calejada de austeridade.
Às vezes parece que o individuo se encontra fora da sociedade.
Estou a lembrar-me da discussão ainda recente relativamente à arte, em que se queria que esta estivesse completamente fora do indivíduo, se calhar para o indivíduo estar fora da sociedade.
A globalização do inútil permite que esqueçamos o que pretendemos e nos apresentemos como  aquilo que julgamos ser.
Saímos ou estamos a sair do limiar da ambicionada liberdade de não sermos fruto de nada.

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