quarta-feira, 27 de junho de 2012

INQUIETAÇÃO

Posso começar assim:


Não tenho representação na AR. O PR não me representa. Não tenho Partido que me represente.
São raríssimos os portugueses que sabem escrever e falar e quase todos não querem saber. Dizem que ninguém lhes falou disso e  eu inquieto-me.
Andamos estes doze anos ou mais a combater o défice. É uma guerra velha, já Pina Moura, ministro de Guterres, ensaiou os primeiros passos, mas só conseguiu aumentar o seu rendimento anual de 22 814 euros para 697.338 euros numa década, que se saiba.
Ferreira Leite começou a austeridade e Sócrates continuou-a em 2008.
Em 2010 vêm os mercados (que não são mais que os interesses capitalistas mundiais, em especial americanos, a impor regras aos países da periferia europeia). O desemprego disparou e eu inquieto-me.
Os bancos foram ao fundo a partir de 2007, começou com o BCP, depois o BPN, o BPP e as diversas tentativas de fusão do BCP com o BPI sem sucesso e com capital angolano. E eu inquieto-me.
Vieram as privatizações, os accionistas estrangeiros. Há 12 anos que não param de privatizar os mais importantes.Vamos ser mandados pela China em vez de sermos  pela América, a China alcançou desde 2010 o lugar de maior economia do Mundo, batendo o Japão e eu fico na mesma.
Assistimos a mais uma crise do capitalismo que de vez em quando entra em crise de crescimento e os povos pagam. Em poucos anos duas "bolhas".
Nos finais dos anos 90 havia empresas a bater recordes em bolsa sem nunca terem dado lucro e eu já me inquietava.
Depois em 2000 o Nasdaq veio dizer ao mundo que a bolha tinha estourado.
Sabem porque estamos inundados de Chineses?
Porque a China desde o início dos anos 2000 anda a acumular reservas em dólares e a canalizá-las para os E. U. para financiar o défice externo americano, ajudando a manter os juros a longo prazo, baixos.
Alimentaram a bolha do mercado imobiliário que começou a esvaziar em 2007 e continua a esvaziar com os tais lixos tóxicos (grande invenção deste século) que intoxicaram todo o Mundo, uma espécie de bomba atómica.
Então a ideia peregrina, iniciada, como sempre nos E.U. foi "salvar" Bancos para injectarem dinheiro na economia.
No caso português vimos o que aconteceu, ainda estamos a pagar e continuaremos a pagar esse salvamento e a injecção do dinheiro na economia não se vê e eu inquieto-me.
E podia continuar com a lista das minhas inquietações, como seja que a maioria dos portugueses vê muita televisão e fala muito ao telefone, mas não para saber destas coisas, mas de outras e isso inquieta-me.
Vou ficar por aqui porque sei que as minhas inquietações são as vossas e todos nós as conhecemos, já que quem me lê sabe mais do que eu, duma maneira geral.
Porque trouxe isto para aqui hoje? Não sei, aconteceu. Talvez para exorcizar  as minhas inquietações (para não falar em revolta, porque a "doença" tem evoluído), tentativa falhada, mas temos que sobreviver apesar de tudo e com Tudo.

3 comentários:

Helena disse...

Quem se inquieta está vivo. E tu estás bem viva!
Mais uma vez um texto muito bem escrito (já se torna um lugar comum afirmá-lo) e com o qual me identifico. Vivo de inquietação em inquietação.

Beijo

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

é, está-se vivo enquanto não se está morto como diria a outra. O pior é que se vai morrendo aos bocados

bjnho

lua vagabunda disse...

pois eu tenho descoberto por aqui exatamente o contrário: portugueses que escrevem muitíssimo bem. Aliás, até me atrevo a dizer que tenho o privilégio de ter alguns como amig@s...

Gosto muito da tua inquietação e da inquietação geral. Só falta mesmo é dar-lhe aquela voltinha para a transformar em revolução.