sábado, 2 de junho de 2012

A PROPÓSITO

Lembram-se das Selecções do Reader´s Digest que andavam por casa de muitos portugueses e em consultórios médicos?
As Selecções estavam a abarrotar de citações, de frases curtas para consumo de quem lê curto. O facebook destronou-as, em certa medida.
Toda a gente posta (como se diz lá), i.é, coloca citações que vê citadas em outros que...
São fantásticas as citações, há quem as coleccione porque dão sempre jeito ter a jeito.
Para mim, as citações têm sido uma boa matéria prima quando me sugerem assuntos para textos, como é o caso de hoje.
Há uma que vi recentemente  de H.L. Mencken, que nunca li, nem faço a mínima ideia de quem é, que diz: "Um idealista é alguém que ao perceber que uma rosa cheira melhor que um repolho, conclui que ela também dará uma sopa melhor".
Não é uma delícia? Estas frases prontas a consumir, são uma espécie de fast food, estão sempre prontas a comer e são de muito fácil digestão.
Claro que nunca me lembro duma citação na hora certa, nas alturas em que mais precisava, para não ser eu a falar e pôr o outro a falar por mim, no entanto há uma que me tem salvo alguma vezes, que é de Óscar Wilde, este já li,  que é: "Resisto a tudo, menos a tentações".
Vem tudo isto a propósito ou não, de ontem à noite não ter resistido a fazer o tal "teste do algodão" no facebook  depois de ter lido que havia 111 Observatórios no País, apeteceu-me criar mais um por um minuto e terminei o dia, dizendo que ia viajar até ao passado para ver  quem resistia a tal frase e vi.
Todos nós sabemos de que trata o efeito Pigmalião, embora alguns não lhe conheçam, o nome.
Pigmalião parece ter sido um escultor da Antiguidade, consagrado por Ovídio como exemplo da possibilidade de, através do poder mágico das expectativas, se operar transformações vitais.
Porque me lembrei deste "rapaz" agora? (de facto, compreendo os autores quando dizem que as personagens têm vida e começam a desenvolver-se por si, já que comigo, o texto às vezes é quem manda e  apenas tenho que o seguir como agora, lá vou a correr atrás do Pigmalião, não tenho volta a dar-lhe).
Porque tal como ele se apaixonou pela sua obra, uma bela mulher de marfim, a quem as deusas resolveram conceder vida, também nós acreditamos no que queremos acreditar, embarcamos no que queremos embarcar, vamos com quem queremos ir a isto se chama o efeito de Pigmalião, ora o que é dito ou escrito, seja nos meios de comunicação social, seja nos políticos ou no Facebook.
Circulam em todo o lado, frases, ditos, notícias sobre o nosso descrédito. Não acreditamos, duma maneira geral a começar pelo P.M., que somos capazes de mudança. Ora isso, dificulta cada vez mais as energias colocadas na tentativa ou empenhamento que se coloca na prossecução da tarefa, diz a Psicologia.
Temos quer para nós quer em relação aos outros, graus de expectância muito baixos.
Assim, apenas acreditamos no que acreditamos, i.é, no que já sabíamos, é isto o efeito Pigmalião e assim transformamos o verdadeiro em falso e o falso em verdadeiro. Não me lembro duma citação, teria que andar à procura, com se diz agora investigar, e como "investigar" dá imenso trabalho, só direi que esta coisa de vivermos um annus horribilis e nos virem anunciar não sei quantos mais,  ainda tem a ver com este efeito e que antes de ser já era vem a propósito digamos, por isso é necessário estar atento a ele (efeito) e a eles.
Se o hiperconsumismo é a a evolução da sociedade, como diz Gilles Lipovetsky (lá estou eu com citações, no meu caso é apenas para tornar o texto mais "credível"), também o consumo das citações é uma espécie de princípio do prazer que toda a gente busca. As pessoas lêem pouco, mas citam muito de autores que nunca leram nem sequer uma linha. É a vida!

5 comentários:

lua vagabunda disse...

Pois eu é exatamente ao contrário: adoro pesquisar e gosto de citações. Lembro-me sempre daquela do Almada Negreiros e que diz mais ou menos que já todas as frases para salvar a humanidade foram ditas... só falta mesmo é salvar a humanidade!!!

Claro que qdo não faço ideia de quem é o autor vou 1º pesquisá-lo para ver se a careta corresponde à carruagem...

Mas no geral até concordo com o teu texto, porque vejo proliferarem no facebook coisas mal atribuídas... andam por aí textos que dizem ser de Mia Couto e de Fernando Pessoa que só quem NUNCA os leu pode passar tal mensagem e acreditar que algum dia pudessem ter escrito aquilo...

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Manelita linda, fazes-me lembrar um antigo chefe que nos despachos, quase sempre a 1ª linha era para dizer não, para na 2ª dizer que concordava.
No teu caso, não é bem assim, porque só concordas na generalidade e não na especialidade, tb és mais nova e tens muito mais energia para investigar, mas que dá trabalho lá isso dá. É por isso que eu quase cito de cabeça, senão não me apetece ir ver, estou preguiçosaaaaaaaaaaaaaaa. Beijos, tenho aqui um navio à porta a apitar, mas o que ele apita, já viste isto?

lua vagabunda disse...

Que sorte!!!!!
Também quero um navio a apitar à minha porta... adoro navios e marinheiros e tudo!

Claro que sou muitíssimo mais nova, aliás quase uma miúda!!!!

Helena disse...

E junta-se mais uma, também mais nova, pois está claro! ;)
Estou como a Manela ou como estão os partidos, quando em resultado de uma frágil 'entente cordiale', concordam na generalidade e depois em nada na especialidade.
Não fazem mal as citações e até acho mesmo que dão um jeitaço, quando sabederia comprimida em poucas palavras. A mim, então, palavrosa que sou, fascinam-me.
Dito isto, passo a dizer que o Fb já só me interessa, em círculo fechado, isto é, no meio de uma meia dúzia de amigos e amigas que prezo e na informação alternativa que leio. A velocidade do clic de partilhar vem-me incomodando cada vez mais e mais...

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Obrigada Homónima por ainda partilhares comigo. Beijinhos