domingo, 20 de outubro de 2013

A BANALIDADE DO MAL ESTÁ NA MODA

Muito se fala deste tema, actualmente. Às vezes, há questões que ressurgem de tempos a tempos. Aí está o filme da Hannah Arendt, o livro, a tese de mestrado do ex- PM, mas não devemos esquecer que os instrumentos de tortura são muito antigos e não foram inventados pelos americanos, nem pelos alemães, embora todos contribuíssem para os aperfeiçoar.
Uma vez vi uma exposição, na Alfândega do Porto, e havia de tudo e para todos os gostos. Instrumentos de tortura que foram utilizados do século XIII ao XVII.
Neste momento essa exposição está no Brasil e o cartaz de anúncio diz entre outras coisas:
“O objetivo da mostra é fazer com que os visitantes reflitam sobre a opressão humana em suas faces mais radicais e cruéis. O poder das instituições, inclusive religiosas, sobre o indivíduo, sua mente e seu corpo”, afirma Mauro Tietz, diretor de patrimônio cultural da Fundação Cultural de Curitiba. Para ele, as peças, vindas em sua maioria da Europa ocidental, provocam reações diversas, do assombro à admiração.
A donzela de ferro (cápsula de ferro com espetos capaz de enclausurar um homem), o triturador de cabeças (barra de ferro que esmagava crânios lentamente) e a cadeira inquisitória (um assento de ferro, que poderia ser aquecido, repleto de agulhas) são alguns dos instrumentos de tortura em exposição. Utilizado no Brasil durante todo o período colonial, o pelourinho também está lá, apesar de ter tido apelo inquisitorial apenas em Portugal.
“Como nunca houve tribunal da Inquisição aqui, os réus eram enviados pelos visitadores ou comissários do Santo Ofício para Lisboa. Tortura havia, sim, nas fazendas escravistas. Mas aí é outro assunto”, esclarece o professor da UFF Ronaldo Vainfas, que estudou as visitações inquisitoriais no Brasil Colônia.
Trazida da Itália pela Associação Ricercatori Storici,a mostra também aborda grandes personagens da história perseguidos à época, como Joana d’Arc, morta em 1431, Nicolau Copérnico, censurado ao apresentar a teoria heliocêntrica, e Galileu Galilei, condenado à prisão e obrigado a retratar-se por sustentar a teoria de Copérnico.
Sem querer justificar os atos, Vainfas sugere, entretanto, fugir do erro de interpretar o passado com o pensamento atual. “A Inquisição existiu em uma época na qual não havia direitos humanos. A pena de morte era legítima e pública. A escravidão era legalizada. A tortura era uma técnica de interrogatório que todos sabiam que estava em prática”.
“Os abusos praticados pela Igreja na Idade Média com o intuito de manter e alargar seu poder, sem dúvida, são fatores que levaram ao acirramento das críticas contra os representantes do catolicismo”, argumenta Angelo Assis, que frisa a atualidade do tema apesar do hiato temporal. “A intolerância religiosa, infelizmente, é motivo de conflitos em várias regiões no mundo de hoje”, completa.

Vi esta exposição antes do 11 de Setembro em Nova Iorque e fiquei mais ou menos de boca aberta, porque é que após o 11 de Setembro se banalizou a tortura e ninguém fala? É bom que o tema seja discutido e esteja de novo na ordem do dia.

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