quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A MINHA CABEÇA ESTÁ POVOADA DE IMAGENS

Vêm-me à memória imagens sem conta. Pessoas, ocasiões, sítios, ditos, pequenos e grandes acontecimentos, rostos alguns.
Nunca fugimos de nós, a não ser em crianças que sonhamos fugir para o infinito.
Vem-me à memória os sapatos que a minha tia Helena me oferecia, aos 4/5 pares de todas as cores e vejo o guarda-vestidos alinhado e as caixas dos sapatos lá no alto.
Das reguadas da Dª Maria Armanda, na escola primária, quando não fazia as contas a tempo e horas.
Lembro-me de amores e desamores.
Do meu casaco  comprido vermelho que foi para tingir quando o meu avô morreu.
Lembro-me de muitas batalhas que travei; de pretensões podadas; do olhar sobre a realidade não me ter corrompido até á idade dos 36 anos.
Lembro-me de construir realidade com olhos acesos e dos erros no ditado corrigidos 20 vezes.
A memória aviva-se como as luzes do candeeiro com lâmpadas económicas.
Há rostos porém que já me parecem oxidados.
Desde que de mim tenho memória sempre me associei aos derrotados. Os vencedores nunca foram a minha grande atracção. Nunca fiquei do lado dos que tiram proveito da vida.
Há memórias que me fazem o coração latir no peito e à noite resguardo-me, aconchego-me para não advirem algumas em falências emocionais.
Reconheço com alguma dificuldade que algumas já são lendas e se cobrem de crostas.
Sei que se encostam todas e que por vezes nos traem, traem factos e sentimentos.
Sei que se excedem de vez em quando, mas sem esta espuma pelos oceanos da vida, confesso que já me iria custar muito viver.
Elas fazem com que vivamos os dias com alguma imaginação e alguns esperamos que nos sacudam no ar, que nos revolvam inteiros(as) para respirarmos os seus hálitos mais tarde, nem que seja em rostos gasosos, movediços como se fossem de fumaça.

2 comentários:

Helena disse...

Revejo-me, ó se me revejo nas tuas memórias, mesmo que as minhas sejam quase todas diferentes.
É já este um olhar de velhas sobre a vida?

Beijo

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

só numa primeira leitura, porque temos muitas memórias ou porque as conservamos, sorrio.
Todos, mas todos têm muitas memórias, mas nem todos têm tempo para as acarinhar... mas gostavam ;-)
beijinho