quarta-feira, 20 de novembro de 2013

E AOS AUTOS DISSE NADA

Nada a declarar.
Voltamos sempre ao mesmo, ao futebol, ao fado e por aí adiante.
A vida é uma chalaça posta em funcionamento pelo hábito do milagre com alguns a pedirem desculpa de existirem e a fazerem de ornamento de outros que apenas pensam em comer os outros.
É uma tragédia. A tragédia da inveja e de ser carne para canhão.
Uma parte é invejosa a outra antropofágica.
Então hoje está tudo feliz, a selecção ganhou.
Esta felicidade dramática dá-me vómitos, apetece-me retirar para dentro de mim.
É difícil admirar os contemporâneos, eu sei, é um defeito.
Lembro-me de Galileu que há mais de 3 séculos afirmou que a Terra gira em volta do sol e que a lua não tem luz própria.
Como devia ter sofrido, é um drama um ser humano ter razão e ter razão antes do tempo ainda mais.
Galileu viveu de 1633 a 42 numa casa perto de Florença prisioneiro da razão e porque vim eu com esta ideia agora?
Porque há uns tantos em Portugal que vivem este drama, o drama de terem razão, os outros preferem a selecção e o Ronaldo.
Às vezes acordamos esmagados(as) e durante o dia caminhamos mais com tanta ideia barata, com tanto biltre, com tanto pulha.
Não, não foi por abrir o facebook, esse sítio onde se embarca em jumento, nem por ler os jornais do capital e ver que há medo, medo terrível de dizerem o que pensam, mas muito mais porque assisto todos os dias  a gente a desimportar-se de tudo, gente que é perseguida por pensar diferente e a todos estes movimentos epigonais.
Conjugam-se muito os verbos intransitivos e eu estou demasiado cansada de tudo isto, dos importantes só falarem com gente importante e dos quase importantes só falarem com gente quase importante e os menos importantes com os menos importantes e os que não têm importância nenhuma com os outros todos que também não têm importância nenhuma.

1 comentário:

Helena disse...

Subscrevo. Todas as linhas, palavra por palavra.
Hoje senti-me exatamente assim!
"Às vezes acordamos esmagados(as) e durante o dia caminhamos mais com tanta ideia barata, com tanto biltre, com tanto pulha."
Nem mais, Homónima.
Nem mais!