sexta-feira, 21 de março de 2014

CESÁRIO VERDE

Vaidosa


Dizem que tu és pura como um lírio
E mais fria e insensível que o granito,
E que eu que passo aí por favorito
Vivo louco de dor e de martírio.

Contam que tens um modo altivo e sério,
Que és muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer da tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério.

Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,
a déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que és um molde alabastrino,
E não tens coração como as estátuas.

E narram o cruel martirológio
Dos que são teus, ó corpo sem defeito,
E julgam que é monótono o teu peito
Como o bater cadente dum relógio.

Porém eu sei que tu, que como um ópio
Me matas, me desvairas e adormeces
És tão loira e doirada como as messes
E possuis muito amor... muito "amor próprio".

Cesário Verde

2 comentários:

GL disse...

Quando leio Cesário ocorre-me sempre o Piquenique e o "rubro ramo das papoilas". Uma delícia, talvez até por a papoila, das flores campestres, ser a minha favorita.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Cesário Verde é um poeta muito importante.