sexta-feira, 1 de junho de 2012

CRÍTICAS

No tempo do Eça, o combate era contra o atraso do país. Eça criticava contundentemente a burguesia lisboeta, as instituições hipócritas. Na sociedade actual, em que a maioria professa ideologia capitalista, critica-se tudo, é um tempo de não glória, se é que alguma vez foi de glória.
Hoje encontramo-nos exilados na nossa própria terra.
Não temos um regime autoritário, temos um regime democrático, que dita as leis dum regime autocrático, com uma economia fragilizada, tal como nos anos 50/60/70 do século passado.
Não temos censura (?)
Formalmente não, mas continuam as pessoas a não dizerem aquilo que pensam, em especial, nos locais de trabalho, na A.R., nos meios de comunicação social.
Podemos chamar as coisas pelos nomes, mas muitos de nós, não sabem dar nomes às coisas porque nem sequer as reconhecem.
Os portugueses, à excepção dos políticos, grandes empresários, público e privados e, mafiosos vários, estão em sofrimento. Estão em dor.
Um povo que tem que peregrinar pelo mundo com saudades da Pátria, para ser livre de facto, porque só há liberdade quando há independência económica e hoje, em Portugal, tal como nos tempos de Salazar, não há independência económica para a maioria.
Um povo que se vê obrigado a dissolver num mar de povos, para angariar seu pão.
Um povo que vê a sua língua esquecida durante séculos, com grande dificuldade para sobreviver, a morrer todos os dias. Os políticos são gagos na língua que proferem.
Fogem do português os jornalistas e opinadores por a não saber manusear.
Um povo com uma enorme raiva, mas surda e quase muda, que não consegue conservar a idoneidade, subjugado por outros povos.
Um povo que como dizia Camões, deixava a vida pelo mundo em pedaços repartida.
Um povo que de novo se encontra sem direito à esperança como há 500 anos e como dizia Jorge de Sena (..."Se lhe tiraram a cama em que sonhar!/ Se não lhe deram nunca o imaginar/mais que sardinha assada sem esperanças".
Vivemos uma época não de pequeno tráfico de golpes baixos, mas de grandes tráficos de golpes baixos.
Portugal já foi atirado para o vórtice uma série de vezes e agora mais uma, em que o único móbil é o dinheiro.
Já há poucas pessoas inteiriças de carácter e se há quem critique e muito, esses são normalmente não ouvidos. Os escutados são os senhores dos lugares-comuns, aceitantes de qualquer diácono.
Vivemos politicamente sob uma ditadura democrática com um conjunto de pessoas mortas-vivas, a quem se convencionou chamar povo.
Na minha juventude ouvia dizer "para pior já basta assim".Agora apenas gostava que tudo DESPIORASSE.

1 comentário:

lua vagabunda disse...

pois... tens toda a razão!

Que triste é tudo isto!