SOBRE A AUDIÇÃO RELATIVA À AVALIAÇÃO DA TROIKA Realizou-se hoje, na Comissão de Assuntos Económicos e Monetários, uma avaliação sobre os "sucessos e fracassos... das intervenções das troikas". Vieram a Comissão Europeia e o BCE. O FMI recusou. Escusado será dizer que a avaliação foi mais do que positiva, mas ainda bem que uma audição implica perguntas e respostas. E houve muitas perguntas incómodas. Da minha parte, apesar do tempo limitado, coloquei algumas. Falei das questões democráticas, ou da falta delas, da forma como a troika cozinha, os governos aceitam as ordens e os cidadãos ficam de fora de qualquer um dos processos. Falei do incumprimento das metas e da forma como à medida que se vão esgotando os prazos de intervenção da troika nos diferentes países, se torna cada vez mais claro que não só a austeridade é um fracasso total, como se torna cada vez mais claro que não vai resultar com esta receita. Perante os indicadores trazidos pelos oradores, Klaus Masuch (BCE) e Servaas Deroose (Comissão Europeia), contrapus os números resultantes da aplicação do programa de ajustamento em Portugal, referindo a quebra do PIB em 6%, os mais 300.000 desempregados, as mais de 350 pessoas que abandonam diariamente o país para procurar emprego. Disse-lhes que, comparado com as previsões da troika, todos os meteorologistas do mundo estão absolvidos, porque as previsões meteorológicas são muito mais fiáveis do que as deles. Se dúvidas houvesse sobre a intenção destes programas, bastaria ouvir a intervenção do representante da Comissão Europeia, Servaas Deroose, para saber que o programa da troika não é para cumprir metas mas para aproveitar a crise como pretexto para entregar ao sector financeiro aquilo que é o património público e o dinheiro dos trabalhadores e dos pensionistas. Foi mesmo isso que foi dito pela Comissão, afirmando-se que se tratava de «transferir de um sector público muito pesado para o sector privado»". Por tudo isto, perguntei directamente quando é que vão admitir [de forma directa] que o programa da troika não é cumprir as metas mas fazer um ajustamento ideológico na sociedade europeia? Confesso que as respostas foram além do que estava à espera. Servaas Deroose, que é actualmente o chefe de missão da Comissão Europeia no programa de intervenção em Espanha, disse que sobre a ausência do FMI "teríamos que perguntar ao FMI, ao que sei as audições públicas não estão incluídas nas regras do FMI". Sobre o mandato da troika, respondeu que a troika age em cumprimento do mandato que tem dos Estados Membros e do Eurogrupo, "todos os governos estão envolvidos nas decisões que tomamos" referindo ainda que "a troika tem flexibilidade e isso tem-se visto com Portugal, o governo traz propostas que s
ão incorporadas.". E face à acusação de destruição do estado social, afirmou: "a troika tem muitas medidas sociais, uma delas é na prestação dos cuidados de saúde que estão a ser melhorados nos países sob intervenção." Palavras para quê...
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