quinta-feira, 7 de novembro de 2013

RESISTIR AO MEDO

RESISTIR AO MEDO

Quando o meu pai faleceu (em boa verdade ele morreu, "falecer" é somente um vocábulo que se me espeta menos na memória), um familiar próximo sugeriu que lhe “comprássemos missas” na igreja da aldeia onde ficou a viver, algo que se à superfície nos conferiu o direito benigno de poder escutar o seu nome no final da Eucaristia, já na profundidade não foi mais do que um suborno a Caronte ou a algum Santo.
Entre outras coisas foi contra estes estratagemas que Lutero (e mais tarde Calvino) se insurgiram com o Vaticano: a possibilidade de quem tem dinheiro comprar a salvação dos seus. Na génese dessa atitude está algo que ajuda a distinguir o Norte do Sul da Europa: o Medo, o receio latente que persiste nos cristãos do Sul de não conseguirem chegar ao topo pelos seus próprios meios, dar o salto, atingir a excelência, agarrados que estão a uma tradição (alheia à Reforma protestante) de pobreza e culpa e pecado e miserabilismo ancorados em fantasmas inquisicionais incutidos há centenas de anos atrás. Se esta crise tiver pelo menos o condão de despertar na sociedade civil a vontade de querer perceber os processos, o gosto de participar nas decisões e, consequentemente, o ímpeto de superar o medo então nem tudo terá sido em vão.
Vem isto a (des)propósito do que se passou há dias com uma colega de trabalho que tendo tido a deferência de comunicar ao seu novo Director de que seria obrigada a faltar por ter a avó internada, literalmente entre a vida e a morte, recebeu do novel doutor (há quinze dias apenas a aquecer o cargo) pérolas de lucidez como estas: que se tratava “apenas de uma avó e uma avó não é tão importante como uma mãe”, que se tratava já "de uma situação perdida portanto ao faltar [estaria] a desconsiderar os colegas que assim teriam de fazer o seu trabalho” e, oiçam esta, se não comparecesse ao trabalho que “não se queixasse se as coisas no serviço [lhe] começassem a correr mal”.
Ora, se as duas primeiras ignominias revelam apenas a boçalidade de um católico provinciano (que se assume como sendo da Opus-Dei) porém com uma noção muito própria do conceito de família e de solidariedade profissional, já o último escarro revela em todo o seu esplendor um pequeno Hitler em potência.
Destes directores “de pacotilha” não há que ter medo. Aliás, denunciar estas atitudes é apenas uma obrigação cívica para que de uma vez por todas em Portugal, os instigadores do medo tenham um rosto.
Hoje, porém, ainda não irei tão longe. Não vejam nisso medo (por favor, não se confundam), apenas o gosto (cristão) que me dá oferecer a estes “estagiários de gente” uma segunda oportunidade. Afinal de contas, o senhor podia estar num mau dia.
Mas não vou deixar de lhe esboçar aqui o nome: _ _ _ _ _ _ (6 letras para o nome próprio) _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ (11 letras para o apelido). Por agora, é onde o quero colocar: na forca.
Depois é ir estando atento à sua actuação assim como quem vai “lançando letras” uma a uma. Se no final ele vai continuar Director ou se, pelo contrário, vou fazer dele Vogal, bom… isso já é consoante.


POR JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES

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