sábado, 2 de novembro de 2013

SONDANDO O ABISMO

Podia ser outro o título, talvez "Viver em Democracia" ou "A Culpa é dos Comunistas e da sua dieta Mediterrânica", mas ficou este.
Viver em democracia requer bastante aprendizagem e 38 anos  é tempo para começar a andar e  falar, quando se trata da História.
Vivemos muito tempo em ditadura, um regime que conhecíamos bem e os referenciais ainda continuam a ser os mesmos.
Tivemos que aprender tudo, desde a entrega de gentileza na relação com as pessoas até perceber porque é que há algo em vez de não haver nada.
Quando o regime mudou, todos os fascistas e simpatizantes passaram para a democracia (a tal revolução dos cravos, sem sangue), após o primeiro susto e fuga e alguns até fundaram partidos. Afinal os comunistas não comeram os seus filhos nem ao pequeno-almoço, nem ao almoço nem ao jantar e esse foi um dos grandes problemas.
Tivemos que aprender a falar de outra maneira, a falar sem diminutivos, a dedicarmo-nos a outras coisas que não fosse ouvir a conversa dos outros como faziam todos esses pides espalhados pelo todo nacional.
Continuamos em aprendizagem contínua e se calhar para manter este regime, temos que conhecer a agressividade.
Temos muitos fascistas que vestem roupas democráticas, mas que nus continuam a ser fascistas e filhos e netos que tiveram essa mesma educação.
Ultimamente como o clima tem aquecido, vão-se despindo e mostrando as formas.
O novo regime, porque tem gente não democrática na sua base, está pensado para nos conduzir para um intrincado labirinto burocrático e corrupto até ao mesmíssimo poder da época fascista.
Há gente arrivista que emerge a toda a hora e que não só se aproxima do poder como o conquista, como fizeram Passos e Sócrates, como já na obra "O Enfeitiçado", conto de Francisco Ayala que Borges me apresentou, quando disse algures que era um dos contos mais memoráveis da literatura hispânica. A história situa-se no tempo de Carlos II (para quem quiser ler, daqui recomendo para os meus 150 leitores diários em média, que continuo sem saber quem são, a não ser 3 pessoas, já que não me dão feedback).
Mas estava eu a dizer Cabide, que as pessoas que estão na cabeça do poder, dificilmente suportam o vazio e por conseguinte dificilmente aceitam  a verdade.
A democracia deu uns ligeiros retoques ao país, nos seus primeiros anos, depois veio um novo-rico, sem ideologia específica que se meteu num partido para usurpar o poder, o filho do homem da bomba de gasolina de Boliqueime, o homem que se fez a pulso, sem cultura mas com muitos resquícios da cultura fascista.
A certa altura apanhou-se com os dinheiros da CEE. A Europa só queria emprestar dinheiro aos pobres como banco que é, para depois penhorar os países e comprá-los a baixo custo, como está a fazer a todos. Não é a história dum só lobo mau, nesta história há muitos lobos maus, alguns com aspecto de meninos da sua avó, como no Capuchinho Vermelho.
Cavaco imprime ao país o seu modelo, o de novo-rico, com a ajuda da Europa. Cada um tinha os seus objectivos. Cavaco, objectivos de curto e médio prazo, a Europa de longo prazo.
Nós, o povo, vivíamos nesta maluquice. Havia pobres a comprar casa, carro, fazer férias no estrangeiro. Toda a gente era proprietário e pronto... tornou-se epidemia. A construção civil e o seu lobby, ligados aos bancos e ao capital, estavam atentos  e mandavam cartas para as casas das pessoas a dizer que os filhos podiam adquirir casa própria, em vez de arrendarem um quartito, até lhes arranjavam um crédito especial (os traficantes costumam dar a primeira droga, não a vendem).
Fizeram-se centenas de milhares de casas; nos anos 90 havia 4 casas por habitante. Não podia ficar ninguém de fora. A princípio o crédito era só para quem tivesse o dinheiro para a entrada da compra da casa, depois era para todos, o banco aumentava assim, o prazo de pagamento de 25 anos  para 50 ou 55 já não sei, e as pessoas sem encontrarem casas no mercado de arrendamento foram na onda de ter  casa própria, que falácia! O capitalismo venceu, a mentalidade de propriedade privada venceu e íamos matando o 25 de Abril e todos os princípios e valores que encerrava, sem darmos conta.
Depois veio outro António, desta vez de sobrenome Guterres, um autêntico sacristão, bonzinho, mas rato de sacristia que deixou andar, deixou andar. Nunca houve tanto desperdício na Administração Pública como no tempo deste senhor e  por fim fugiu como rato de sacristia que era e nunca deixou de ser.  Era um antifascista mas isso só  não chega.
E a história continua, mas agora com  protagonistas com uma única ideologia, a Santa Europa e o dinheiro que dela podem sacar, não para o povo, mas para os seus e só para os SEUS. O método é sempre o mesmo, o do traficante de droga,  pôr o povo tão agarrado, tão dependente, que precise do seu tráfico de novo.
Vendedores de sonhos próprios e com patuá, que levam a acelerar o processo de demolição dum país.
Agora não temos soberania e não sabemos se ainda somos um País, mas estes exploradores de abismos (retirei do título do livro do Enrique Vila-Matas)  continuam a endividar-nos, a pedir dinheiro à Europa, que enquanto não comprar completamente o país não nos abandona, à semelhança do que fizeram os bancos portugueses ao povo.
Temos andado a vogar em mar alto, perdidos, à deriva muitas vezes, à espera duma salvação.
Toda a imaginação é pouca para nos salvarmos, mas já enfiamos os coletes de salvamento e corre-nos no sangue o espírito de navegadores, havemos de saber nadar e mesmo extenuados chegaremos a terra.
Precisamos de desembarcar como indivíduos, como portugueses, em Portugal.
Eu quero crer e é como uma oração que digo o mesmo todos os dias.

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