quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A ALMA- diálogo

Chegou o teu dia, o dia de falar de ti, só de ti minha querida.
Para já e tu sabes muito bem, és altamente contraditória, às vezes até és mal aparada como um lápis curto e rombudo outras vezes, pareces uma caçadora de borboletas sempre de rede na mão.
Tens uns olhos negros, convergentes (às vezes), estrábicos e congestivos e penso se não serão os olhos da Justiça e por isso lhos vendaram.
Não sei se sabes que dizem que tu não existes.
Pois não sei, se és da classe dos constructos. Para mim como sabes, tens corpo, mãos, cabeça, pés, etc..
Já te vi, inclusivamente, com lágrimas nos olhos, pálida.
Já te vi em bairros de má fama, excêntricos como agora se diz.
Outras vezes e tu sabes muito bem, percebo-te o jogo e narro-te sem dó nem piedade e tu dizes com aquele teu ar pergamináceo, hebdomadário (estas palavras aqui não querem dizer o que querem dizer, convém referir, não vá alguém ler-nos, sabes que agora estamos editadas, ri-te, ri-te...).
Pronto, já me mudaste de lugar outra vez - "Aqui à minha esquerda...sim?"
Sabias que apontar é pecado, é tabu.
Mas olha como te estava a dizer, antes dos piropos, há pessoas que dizem que tu não existes, vê lá tu!
Algumas até me perguntam quando lhes marco um encontro contigo, a rirem-se de nós.
Nessas alturas, eu digo-lhes: é verdade que a Srª Alma está mais anquilosada e já não possui a agilidade necessária para trespassar indiscretamente as pessoas e os factos que as consciências interrogam e condenam. Isso é verdade, no entanto ainda aponta, 'mesmo assim'...
Lá estamos nós a falar ao mesmo tempo, como duas velhas, como toda a gente, ao mesmo tempo e sem se ouvirem ou ouvindo-se a si próprias apenas, certos de que ninguém os escuta.
Achas que já estamos a monologar em coro?
Sei, eu ouvi.
Retorno à simbólica da minha infância quando rezava o terço com a minha avó.
Queres dizer-me que eu sou a tua neta feliz?
Não, agora que já sou avó, somos da mesma idade e por isso te trato por tu.
É engraçado isto, não achas?
De te tratar por tu. Foste tu que rejuvenesceste ou eu que envelheci?
Como é possível dizerem que tu não existes, como é possível?
Pronto, já sei, é tudo possível nesta vida, nós é que não sabemos.
Até logo Alma, já sei que não és alminhas, eu não disse isso, sua pergaminácea hebdomadária!
Eu sei que tens autoridade, mas não exageres nos afectos, nos arrebiques.

6 comentários:

GL disse...

Belíssimo, este diálogo/monólogo.
Gostaria de o "roubar", de o levar para o "olhares". Não só pela noção de partilha que pauta a minha forma de estar na vida, mas para o reler sempre que quisesse.
Fica o desejo, aguardo o veredito.
Beijinho

Helena disse...

"Oh! este marulhar das almas no silêncio!"

Beijo, Homónima

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

:) beijo da Alma para ti

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

GL bom dia, pode levar tudo o que quiser, ordem dada para todo o sempre :) Bj e obrigada

GL disse...

Aí vai, "voando" até ao "olhares".

Obrigada.:))

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

obrigada eu.
Boa noite lhe vim desejar