quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A REALIDADE E A FICÇÃO

As palavras não interessam, ouvi ontem e pensei: como metáfora até pode ser interessante.
Os corpos não interessam e por aí fora.
Já tinha ouvido dizer "nada interessa, nada tem interesse".
"Dás muito valor às palavras". Fiquei a pensar naquilo por momentos.
Há pessoas atrevidas a falar, que vão descascando camadas e camadas do segredo e calam o cerne das questões, julgando tratar-se do real e da realidade.
Pessoas que se rasgam para que nelas se acredite, mas a magnanimidade acontece raramente.
Pessoas que têm a coragem da raiva sabendo que estas só lhes trás derrota.
Não era o caso.
A cidade que corre alternando casa e árvores e pessoas - realidade ou ficção - venho de Metro, sol de Inverno, a pensar, a sentir ausências, descalça no corpo todo, ficção ou realidade?
Aprende-se a sentir calor quando está frio e funciona muito naturalmente ou não funciona mesmo.
As palavras não interessam dizem as pessoas que já se fartaram do mundo mas que mesmo assim não o trocariam pelos pregos do caixão e que ainda esperam construir a sua felicidade dançando ao som duma canção.
As palavras não interessam, belo tema que me era oferecido assim ali, entre a sopa de nabiças e os filetes de pescada. Bebi um gole de maduro tinto para mastigar bem o que acabava de ouvir.
As palavras escolhem-me, começam a parecer-se com os mosquitos cá de casa, preferem-me e eu quase me rendo.
Soergui-me do copo e pensei: que bom é eu não acreditar em todas as coisas a que me habituei e, socorri-me disso.
Quantas  boas palavras se escondem por trás de modos trabalhados e cultos de seres socializados.
Realidade ou ficção?
Quando nos baseamos nesta dicotomia precisamente quase duma calma bárbara pois tudo está contaminado de imitação.
O que é o real, a realidade e a ficção?
Encontramo-nos aqui num sorriso único, um sorriso com arte, um sorriso que nos derrete de prazer.
As palavras são necessárias, tão necessárias como as agulhas digo eu, para alinhavar a vida, porque a vida alinhava-se eternamente.
Podemos viver sem agulhas?
Podemos, mas não é a mesma coisa.

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