sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

GRADUAÇÕES

Aquilo que não se tem é o mais importante.
Cozinho pensamentos todos os dias, como toda a gente.
Não sei porquê que sempre me associei aos derrotados. Os vencedores não são os  que mais me atraem. Não, não sou uma derrotada, não vão por aí na análise.
Não é por ser Natal que penso mais em quem sofre, penso exactamente o mesmo todo o ano.
O que mais me asfixia é a saúde, porque a tenho muito debilitada, talvez.
Considero ser a saúde, mais propriamente a falta dela, que escraviza as pessoas, só depois vem o resto e muitas vezes este resto é quase tudo e em simultâneo.
Fala-se muito de política e fala-se bem porque é ela que nos comanda a vida para bem ou para mal, também lhe dou importância suprema.
Segue-se na escala de importância que dou às coisas da vida O SUBORNO, aceitar amabilidades de inimigos, afectos fraudulentos é algo que me fere o coração.
A impostura das pessoas e dos povos magoa-me. Magoa-me quase tanto como a realidade, a corrupção pela realidade, melhor dizendo.
Como todos deviam saber, mas só alguns sabem, a realidade só é real para quem a constrói.
Chegamos a uma idade que parece que o chão caminha connosco e que oscila tanto quanto nós, só me falta saber se é um favor que nos faz ou não.
A luz maior, a verdadeira luz é aquela avivada pelo candeeiro da memória, embora haja épocas em que as lâmpadas fundem.
Cada vez menos me interessam as lides oratórias, parecem-me oxidadas, há muito que abandonaram os  territórios bucólicos. Quanto mais falam mais me ofendem a inteligência.
Os ardis do quotidiano são muitos, a luta pela minha independência mantém-se todos os dias, falo da interior, da que me faz abdicar de muitos gestos e me faz forrar palavras e coração.
A luta mantém-se para que os vapores fétidos que emanam de alguns sonhos não me intoxiquem, tornando os sonhos uma realidade constante.
Pisamos chãos movediços sem nos darmos conta, chãos vulcânicos de mentira que consomem a nossa boa fé.
Caminhar na vida é difícil e nem sempre consigo viajar pelas frestas da arqueologia nem das palavras nem dos sentimentos, só a título de exemplo, sabemos que o povo nada sabe ou muito pouco daquilo que o rege, mas continuamos a querer mobilizá-lo.
A vida tem-me dito que há almas escancaradas mas que cada vez mais os pais ensinam aos filhos o manual da cobardia.
Um dia chamaram-me Teresa de Ávila, lembrei-me agora não sei porquê, mas isso é outra história.

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