domingo, 7 de novembro de 2021
O LUGAR ONDE SE ESTÁ VIVO
domingo, 17 de outubro de 2021
AS MINHAS FALHAS
quinta-feira, 12 de agosto de 2021
A VIDA APRENDE-SE TARDE
domingo, 4 de julho de 2021
48 ANOS
quarta-feira, 30 de junho de 2021
A BORBOLETA QUE SE ATIRA AO AR
domingo, 20 de junho de 2021
SER RICO
quarta-feira, 16 de junho de 2021
VIDA EM COMUNIDADE
sábado, 29 de maio de 2021
COISAS
quinta-feira, 20 de maio de 2021
É DEMASIADO IMPORTANTE PARA NÃO COLOCAR AQUI
segunda-feira, 17 de maio de 2021
PORQUÊ?
sábado, 15 de maio de 2021
UM PAÍS DEPRIMIDO
quinta-feira, 13 de maio de 2021
O TEMPO É CURTO
sexta-feira, 7 de maio de 2021
Madame la baronne e Monsieur marquis
quarta-feira, 5 de maio de 2021
A MALDITA TELEVISÃO
segunda-feira, 3 de maio de 2021
SEGUNDA-FEIRA
quinta-feira, 18 de março de 2021
A MORTE
Esta senhora toda poderosa no seu grandioso silêncio veio buscar-me mais um amigo.
A morte é uma metáfora que atrasa, que transporta as nossas vidas.
Preparo-me para ir ao velório do meu amigo Aníbal (parece-me inacreditável) e como não sei orar muito bem, concentradamente, resolvi escrever a minha prece para ti.
Sinto-me como se fizesse parte dum coro que lamenta a sorte humana na tragédia.
A morte pesa muito.
Tu fizeste homeostasia toda a vida, cuidavas de regular bem a tua vida, e de repente veio ela e ceifou-te, NÃO LHE PERDOO.
Não sei amigo se na morte temos a possibilidade de continuar a olhar para os tectos pintados a fresco com figuras de anjos roliços de mãos dadas, tu mo dirás.
Hoje mais uma vez, são 10,13h neste momento, vais abrir a porta da Igreja com uma grande chave como fizeste da outra vez, só que hoje não precisas de limpar os pés no tapete, retiraram-no ecolocaram uma passadeira vermelha em tua honra. Estou a ouvir-te rir e a dizer que dispensavas mas também era o mínimo que a grande ceifeira poderia ter encomendado, não achas?
As coisas nunca são como nós gostaríamos que fossem e a vida parece quase uma roda, um círculo perfeito que acaba no sítio onde começou.
A vida juntou estes amigos, a vida separou-nos de ti.
Quem nos vai marcar e escolher restaurante, informar os melhores sítios, contar anedotas, falar dos netos e dos seus desenhos, sorrir-nos quando aparecemos?
Tu eras o maior no nosso grupo e não estou a falar só do mais alto, que também o eras, mas aquele de que cada um de nós não prescindia- pergunta ao Aníbal, o que é que o Aníbal acha, o que é que o Aníbal diz sobre isso?
Só mais um bocadinho, dizias. 'Mais que duas Igrejas é muito, só mais um bocadinho' e rias com esse teu sorriso primaveril que te caracterizava, o tal que vai ficar connosco.
Quem nos vai ler poesia com aquela voz sincera e clara como a tua?
Não sei, não sabemos desde quando é que te começaste a dar com a grande ceifeira, em segredo. Os tempos não estão para compromissos mas ela teve contigo um encontro rápido mas eficaz, logo tu um ser cintilante e colorido. Tu que amavas a vida, o brilho e a cor, que não gostavas de solilóquios, que tinhas tanto para alegar em tua defesa, mas ela envolta na poeira dos tempos e sem o menor grau de certeza veio falar-te ao ouvido. Confundiu-te amigo, é impossível que não te tenha confundido, anda transtornada e enganou-se.
Tu, nós, que gastamos breves instantes a passar pela infância, pela adolescência, pela juventude e pela vida adulta... a senhora morte congeminou mal, deve ser acusada de assassinato, praticou um crime. veio buscar uma pessoa apaixonada pela Vida. Confundiu-te amigo, só pode ter-te confundido. Veio irada, gelada, desvairada, quem ela se julga para se apresentar cheia de substância na tua frente e mais mortífera do que nunca.
Se te encontrares com ela por aí, fotografa-a, diz-lhe que é uma cobarde, uma assassina e grava-lhe os urros lancinantes da loucura, esses grunhos, havemos de fazer um álbum jocoso dessa rainha Gertrudes.
Diz a essa besta cobarde que te apanhou de costas que não gostamos de criaturas heteróclitas e que a consideras a mais feia de todas as damas, que tem uns chifres de tamanho do mundo e uma cabeça de peru e os cascos são enviesados, que se escusa de tapar e esconder toda que agora a conheces bem e que se ela te matou tu também a vais matar, mas de frente, porque até lhe conheceste as canelas peludas quando ela se afastava de ti ontem à tarde, que ainda lhe tiraste uma fotografia e vais mostrá-la a todo o mundo como repugnante ela é.
Só ontem à tarde percebeste o ictiocentauro que estava à tua frente, que se tinha escarranchado ao teu pescoço conforme me disseste no último dia que falamos, 21/2/2021.
Todos nós pensamos em Hamlet e pensávamos que a velhice era um sol poente, mas a tua tragédia foi exponencialmente geométrica.
Tu que anotavas tudo, que organizavas tudo como um arcano maior, como um mago que fala, actua, estuda e escreve, um diplomata com vontade e energia, a ceifeira mascarada de preto e com utensílios para a ceifa enganou-te muito. Agarrou-te e envolveu-te em silêncio primeiro, apanhou-te distraído
Amigo Aníbal, resta-nos o prazer de termos conhecido uma pessoa de bem, uma pessoa que deu conta do recado na vida e que deixa uma família bem formada e de sensibilidade alabastrina.
Não são todos que se podem gabar de conhecer gente que constrói famílias bonitas e que tem um séquito de amigos, nem todos nos podemos dar a esse luxo.
Tinhas tanta vontade de viver para os teus netos e filhas e mulher a quem tanto amavas e admiravas e cai sobre ti, de repente este violento acto da assassina cobarde.
Puff Aníbal, ainda mal nos caíram os dentes de leite e já estamos a ter de encarar esta infeliz que odeia os genuínos, os autênticos.
O Rogério chora, o David chora, o Teodoro como sabes gostava muito de ti e continua a ouvir-te como eu, como o Cristóvão, que partida que essa senhora lhe pregou também.
ATÉ SEMPRE AMIGO e olha que ouvi os teus conselhos, já estou a tomar os comprimidos todos e agora vou cumprir tudo à risca, só me falta ser menos chata e não levar a vida tão a sério como tu me dizias.
BEIJO QUERIDO AMIGO, FICARÁS SEMPRE CONNOSCO E DISSO NÃO TERÁS DÚVIDAS E VAIS CONTINUAR A RIR CONNOSCO, PROMETEMOS!
sexta-feira, 5 de março de 2021
SOMOS SOZINHOS E MORREMOS SOZINHOS
A MINHA DOR É A MINHA DOR
Posso tentar compreender a dor do outro, mas é sempre do outro, a minha não me é muda, não me é estrangeira, conhece-me, falamos a mesma língua.
Este contacto com a morte e a doença diariamente através da imprensa escrita e falada amolece-nos a vida, faz-nos pensar como Sartre e dizer que a vida não tem sentido.
Não intuímos o futuro, nem o presente tudo nos é proibido, com alguma sorte conseguimos intuir algo sobre o passado.
Os outros são diferentes e temos que fazer concessões e isso cria-nos dor.
Shopenhaur fala do dilema do porco-espinho. Quando o porco-espinho tem frio aproxima-se de outros porcos-espinhos, mas juntos picam-se e provoca dor e afastam-se de novo.
Eu não sei se gostar de estar sozinha é um mal ou um bem, só sei que já me habituei a ele.
Não vivo sozinha, mas gosto de estar sozinha.
terça-feira, 2 de março de 2021
SER OU NÃO SER MORALISTA
"O moralista é como um sinal de trânsito que indica para onde se pode ir para uma cidade, mas não vai"
Charles Dickens
Segundo o dicionário: moralista é aquela pessoa que avalia os outros de acordo com os seus próprios padrões morais.
Está na moda nada se impôr, fazer de conta que tudo se aceita mas a verdade é nunca se aceitou tão pouco como hoje.
Ética e moral são conceitos diferentes como é diferente moral para a religião e para a filosofia, já o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos no seu capítulo I, dizia que era indesculpável um homem julgar quem quer que seja "porque quando julgas a outro a ti te condenas pois praticas as próprias coisas que condenas".
Há uma crise de ética no mundo, temos dificuldade em educar alguém. Educar pressupõe responsabilidade permanente e pressupõe regras, limites e é isso que se torna difícil. O pai prefere ser o amigo do filho em vez de ser o educador.
Confunde-se ética com moral no dia-a-dia e cada vez mais, mas os princípios, o acharmos que só podemos aquilo que devemos não é a mesma coisa quando impomos os nossos valores aos outros. Os moralistas invadem o espaço alheio, enquanto a ética se baseia no espaço do outro.
A maioria de nós acha-se superior, considera que os seus valores e princípios são melhores do que o dos outros.
Claro que há que haver princípios de conduta, regras, princípios e valores em que nos movemos, há que ser responsável, caso contrário caímos no relativismo e cada um pode fazer o que lhe aprouver.
Penso que a Declaração dos Direitos Humanos mesmo assim é a Lei mais abrangente sobre esta matéria.
Este tema, esta reflexão é-me bastante cara. Temos que reflectir se nos estamos a reger por regras mais moralistas ou mais éticas na nossa vida.
Cabe a cada um de nós esta reflexão que deverá ser o mais profunda possível.
segunda-feira, 1 de março de 2021
VIRADO AO CONTRÁRIO
O GRANDE TUMOR do mundo é a falta de compreensão entre as pessoas.
A maioria das pessoas não compreendem o que lhes é comunicado, quer por via oral quer por via escrita e nada tem a ver com o nível de escolarização ou de alfabetização. Já tenho visto gente licenciada e até doutorada a não conseguir descodificar as mensagens.
Empiricamente, e só falo a este nível, já que o tema está por demais estudado em bases científicas desde há mais de 100 anos, há imensa gente, começa até a ser a maioria, excepção é quando se não verifica, que logo no início duma frase proferida pelo interlocutor, dá uma resposta à mesma frase completando-a ao seu belo arbítrio.
Convicta estou que se trata da pressa em que hoje se vive por um lado e por outro, a superficialidade das relações, as pessoas não param para escutar os outros, não têm tempo nem interesse.
Há imensa insegurança nas relações, o não querer ir mais além, o não comprometimento com os outros e com aquilo que é dito, o não quererem manifestar as suas posições por a maioria das vezes não terem argumentos para as defender.
Convicta estou que de tanto desatenderem o que lhes é comunicado deixam, com este treino intensivo, de conseguir entender mesmo que um dia queiram.
Há também outra variante para esta descomunicação se efectuar que é a interpretação e a inteligência, quer uma quer outra são importantes para o acto da compreensão.
Poderíamos falar ainda do respeito que é necessário para ouvirmos posições diferentes e aí já não está em causa o entendimento, a descodificação da informação, porque não é o significado que está em causa, mas antes a democraticidade das relações.
Para se compreender o que nos é dito, é preciso descodificar a mensagem e para isso a cultura da superficialidade e da ausência de tempo, o stress em que as pessoas vivem actualmente, para fornecerem a si mesmas e aos outros, uma agenda cheia, as mil e uma coisas que têm ou julgam ter de fazer num dia para seguirem e comporem um perfil dinâmico social, não ajuda ao processo da comunicação. Assim, cada vez se comunica mais através da subjectividade, daquilo que é percepcionado como comunicado e não pela sua essência.
Quando se ouve metade, completa-se o que é dito com metade da compreensão daquilo que na verdade foi emitido. Todas estas variáveis que estão presentes na comunicação têm vindo a aumentar e a tornar-se cada vez mais incontroláveis.
Ler devagar, ouvir devagar, até ao fim, leva a uma maior compreensão da vida, do mundo que habitamos. Nunca o poderemos entender nem que seja na ínfima parte que nos é reservada se não deglutirmos devagar o pensamento, o aprofundarmos e alargarmos o nosso poder de escuta.
domingo, 28 de fevereiro de 2021
DORES ROCHA (personagem ficcional)
Um dia Dores Rocha encontrou-se com um busto, um busto num sítio escondido, de um senhor cego, ali em frente a ela.
Interroga-se quem será e de onde terá vindo e porque está de costas para o mar.
Tantas perguntas e nenhuma resposta. Então virou-se para trás, logo ali, e perguntou se sabiam de quem era aquela estátua. Ninguém sabia e alguns nem a tinham visto nunca.
Decidiu que havia de saber, a sério, quem era aquele homem cego dum olho, saber tudo sobre ele já que quem o colocou ali nem nome lhe deu quase com vergonha de colocar aquela cabeça tão pequenina e tão escondidinha.
Dores Rocha continuou o seu passeio junto ao mar Atlântico, revolto, com ondas ora verdes ora azuladas ou mesmo quase amarelas.
Ela tinha medo do mar desde pequena quando a meteram nas ondas da praia sem seu consentimento, apenas porque diziam que banhos do mar faziam bem à saúde. D.R. procurava uma palavra dita sobre a sua questão, mas já obtivera a sua palavra calada. Então, de novo junto àquela escultura que a tinha posto a pensar. De repente, lembra-se: é o Luiz Vaz, só pode ser o Luiz Vaz aquele que quis conhecer outro mundo.
O Luiz Vaz que sonhou com outro mundo e que conheceu outro mundo e que nos deu a conhecer outro mundo, O MUNDO DOS AFECTOS, com sua lírica fabulosa, na enorme batalha de descobrir o encoberto.
D.R. sentia e vivia neste mundo que separa as pessoas, neste mundo injusto e desigual, então olhou o Camões no rosto e olhar o rosto obriga à responsabilidade.
Vivo neste mundo de refugiados, de emigrantes, de glaciares que caem, neste mundo dos excessos. Diz-me Luiz Vaz se estes dois mundos em que vivemos, o teu e o meu e, em especial o mundo dos nossos sonhos. Diz-me porque a ti eu digo, que os nossos mundos se relacionam, nós sonhamos com outros mundos, os mundos sonhados.
D.R. ficou com os 5 sentidos alerta, forçando por entende-los.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
O MUNDO É REPRESENTAÇÃO
Quando o dia está fechado como hoje é mais fácil defrontarmo-nos connosco e tornar uma tristeza em algo criativo.
Quando não vemos muitas estrelas a lucilar, todos os zinidos ficam mais fracos e o silêncio se alonga.
Tenho mais um amigo na rampa final. A minha tristeza formalizou-se.
Os nossos amigos são-nos roubados.
Nós próprios estamos no comboio descendente e cada dia que passa mais lerdos nos tornamos.
A pandemia tem-me(nos) parecido uma espécie de chicote de nove pontas usado nos navios ingleses para vergastar os marinheiros e a morte dos amigos também.
As oportunidades de fazer um amigo são raríssimas e miraculosas e muito limitadas no nosso universo.
O Mundo é uma representação.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021
DEIXANDO PASSAR O DESCONHECIDO
Estamos sempre do lado de fora.
Fecham-nos as pesadas portas de democracia, quando não somos nós a fechá-las também. Por vezes, até as empurramos a saber se estão bem fechadas.
Estamos, por norma, distraídos do que se passa ao nosso redor, muitas vezes somos nós que nos banimos.
Quando assim acontece, há sempre muita gente a aproveitar aquilo que não queremos.
Abandonamos a política porque não gostamos, assistimos à queda e ruínas dum sistema e pouco ou nada fazemos. Suspiramos e dizemos 'isto vai mal' e o que fazemos de seguida?
Deixamos passar, afastamo-nos, criticamos, vamos embora.
O que pode ser mais importante do que a política?
A política que nos comanda a vida, todos os passos que damos, desde os bancos da escola até ao dia em que morremos.
Somos todos grandes luminárias a criticar, mas só alguns de nós passam à prática.
Há muita coisa que mudou no nosso país com o 25 de Abril, só quem não viveu o 24 pode negar esta evidência. A maioria mudou para melhor: A Saúde, o SNS era inexistente, a Educação, quem entrava na Universidade? Uma elite. Para já não falar no mais importante, a prisão política, a censura, o medo e tudo com isso relacionado.
Continuamos com níveis elevados de pobreza, demasiado elevados, ausência de empregos, vencimentos de miséria, etc.
As pessoas continuam a emigrar às centenas para conseguirem melhores condições de vida. Os jovens não conseguem nem segurança nem estabilidade para conseguir formar família.
A violência da pobreza e do desemprego violenta-nos e não é consequência da pandemia em que estamos mergulhados, a pandemia veio agravar tão só.
Deixamos adoecer a Demo cracia, apenas lhe fazemos uma visita retardada de vez em quando.
Era-nos desconhecido e ainda continua a ser para a grande maioria que a democracia adoece e que precisa de ser tratada e acarinhada.
Deixamos passar o desconhecido.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
VER DE PERTO
Com o é bom vermos de longe manhãs e tardes ensolaradas.
Interrogo o silêncio que me rodeia e vejo de perto uma lagartixa que rabeia parede acima e volta-se na minha direcção. Parece que me olha na sua cabeça chata e me pergunta porquê.
Não sei, respondo-lhe.
Está tudo vazio mas eu procuro-me.
Vejo-me sozinha a ir para a escola da Trindade, assustadiça no meio da cidade. Tinha medo da professora. Tinha entrado mais tarde quase dois meses devido ao sarampo e estava atrasada nas contas.
Era no tempo do fascismo. Nessa altura quando não sabíamos punham-nos umas orelhas de burro, mandavam-nos ajoelhar no estrado e estar assim toda a manhã a olhar para a parede, depois de termos dado as duas mãos para as esquentarmos com cinco reguadas em cada mão. Uma humilhação tremenda que ainda hoje me lembro, uma dor que se carrega toda a vida. O fascismo pesava muito no nosso franzino corpo.
De novo a lagartixa me interpela e ao meu passado. Volto ao silêncio e ouço o gemer das rolas no silêncio do confinamento, palavra que se passou a usar muito desde o ano passado, significando prisão domiciliária sem crime perpetrado. Informaram-nos que devido ao Serviço Nacional de Saúde estar muito doente por não terem cuidado dele há décadas, não o poderíamos sobrecarregar nem matar a economia, por isso convinha não nos infectarmos com o vírus Sars-Cov-2 que apareceu vindo não se sabe de onde, para dizer que a Vida na Terra não podia continuar assim, a que os governos mundiais não deram nem dão qualquer importância na sua verdadeira essência de mensagem.
Ouço uma voz conhecida: Mudaste muito de aparência, nem te conhecia.
Mais à frente outra voz: Estás igual, pensas o mesmo que pensavas há 40 anos. Não sabia se tinha sido proferido um piropo ou um insulto, mas aos meus ouvidos soou-me como piropo.
Olho para o outro lado e vejo uma gaivota, tinha a certeza - estava no Porto. Era antes da pandemia, ouvia falar várias línguas e pensava: um dia quando este turismo desenfreado acabar ou abrandar, a terra que me viu nascer, esta bela cidade do Porto, vai ficar mais pobre ainda.
Olho para o Rio e de seguida regresso ao presente e ao futuro.
Emocionei-me quando ouvi a voz do rio, do meu amado e querido rio, que me sussurrou ao ouvido: se soubesse que vinhas aqui hoje, tinha mandado engalanar as minhas margens com bandeirinhas de papel de seda de todas as cores e convidava uma orquestra ´para tocar a música de Bach ou Chopin, os Nocturnos de que tanto gostas, porque quando se gosta de alguém deve-se dizer que se gosta e eu dir-te-ia assim.
Estremeci de comoção porque dentro de mim havia uma espécie de ressurreição com este regresso, o encontro de dois velhos amantes, o Douro e a Helena naquele sítio de sempre, só nosso.