quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

EMPRÉSTIMOS

As pessoas são aquilo que imaginamos muito mais do que aquilo que são.
Emprestamos-lhe sentimentos, emoções, beleza e até actos, se não forem reais, imaginários.
Colamos-lhes características inexistentes e dormimos sobre elas para o bem e para o mal.
A nossa perspicácia fica-se toda ou quase toda pelos afectos.
Um dia acordamos ou elas acordam-nos e ficamos espantados(as )ao vermos outra pessoa.
Entre o que são de facto as pessoas e o que se conta delas ou delas próprias, há muita diferença.
Nós gostamos das pessoas por aquilo que temos em nós ou que imaginamos ter.
Ninguém conhece ninguém, no entanto julga-se conhecer.
Mas também não nos conhecemos a nós próprios e se calhar nem temos essa verdadeira necessidade.
Sabemos moderadamente o que somos, através do que sabemos que não somos, pelo menos.
Neste processo de empréstimo ao outro daquilo que gostamos, estamos como que a ceder ao  desejo de recuperar algo que julgamos inconscientemente perdido.
E um dia o "não-é-bem-assim" revela-nos o que é assim e a isso chama-se ficção.





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