sexta-feira, 30 de março de 2012

COM A CAUDA DE FORA

Todos nós deixamos rasto ou rastro.
Há aqueles que não gostam de deixar rasto, mas também deixam, há sempre quem esteja atento a essa passagem.
Rasto de amargura, rastos de ternura, rastos do deixa-andar.
Há pessoas fechadas a cadeado mas que também deixam rasto (até aqui no facebook) se deixa rasto.
Há aqueles que brincam aos intelectuais, há os que querem continuar rapariguinhas, há os que moram por baixo das palavras, há os que constroem para si uma personagem e sempre a mesma.
Há quem coleccione segredos e os que deixam de ser desconhecidos para si mesmos.
Há os que têm a arte de dizer depressa o essencial, há os que procuram palavras para tudo e há as palavras sérias e dignas que não têm saída.
Há quem divirta a assistência.
Há aqueles que jogam com o prazer porque a idade lhes confere esse direito.
Há os prudentes em excesso, bloqueados, edulcorantes, moles na sua sabedoria.

E deixamos caudas. Fechamos as portas e deixamos os rabos de fora.
Os mais defendidos, a mais segura das criaturas, a mais impossível de se fotografar, a mais paciente, mesmo estas temíveis criaturas deixam rasto.

Todos nós somos enganados toda a vida, andamos  mais de metade da nossa existência, a querer libertar-nos disto, para depois até acharmos graça, embora demore muito até lá chegarmos.
Mesmo cortando o trânsito para não nos mostrarmos, acabamos sempre por deixar rasto.
Mesmo que não se coloque complementos directos nos verbos, mesmo que se evite rir e até sorrir, deixamos rasto.
Mesmo que não se enamorem, mesmo parecidos com todos os outros, mesmo assim, deixam rasto.

Ouro puro ou simples limalha de ferro deixamos rasto, só que muitas vezes não sabemos e andamos com a cauda atrás de nós, composta de muitas caudas que se vão juntando umas às outras e fechamos as portas e continuamos com a cauda de fora.

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