sexta-feira, 16 de março de 2012

DO LIVRO DE NUNO SIMAS - PORTUGAL CLASSIFICADO (DOCTºS SECRETOS NORTE-AMERICANOS- 1974-1975)

Estávamos nos idos de 1974/75 e os americanos com os olhos em nós.
Stuart Nash Scott, era o embaixador em Portugal e não acreditou que os militares do 25 de Abril derrubassem o Governo, considerou-os apenas um movimento com motivação corporativa e  nunca política.
A administração americana não queria dar a entender que se imiscuía na política portuguesa, mas Richard Post, encarregado  dos negócios norte-americanos lá ia falando com Veiga Simão, ministro de Caetano.
Spínola era conhecido dos norte-americanos e visto como um aliado.
As ideias expressas em "Portugal e o Futuro" eram bem conhecidas dos responsáveis dos assuntos ibéricos do Departamento de Estado e correspondiam, no fundamental, aos ineteresses norte-americanos.
Após a realização das eleições (seria um ano após) Spínola expressou a sua confiança de que Portugal provará ao Mundo que não é um país comunista e manifestou a sua convicção de que o futuro Governo não teria nem comunistas nem socialistas.
Carlucci injectava paciência e pragmatismo na política americana e no Verão quente de 1975  torna-se amigo de Mário Soares e informa a administração americana sobre Vasco Gonçalves, dizendo que não obstante ser uma personalidade complexa e controversa "emotivo, idealista, vivo e inteligente", não tem provas que seja um comunista, embora o classifique de nacionalista de esquerda e "compagnon de route" do MDP. Costa Gomes sim, era considerado muito à esquerda.
Extracto do telegrama de Frank Carlucci para Washington:
"Se o Deptº de Estado decidiu ou está em vias de decidir uma alteração (de política quanto a Portugal), então é preciso  mudar tudo - cortar a ajuda, retirar Portugal do MAAG (programa de assistência militar norte-americana)  pedir a sua saída da Nato, desencorajar o investimento e o turismo. Fingir amizade e apoio por um lado, e tomar pequenas mas significantes medidas primitivas, por outro, é o pior.
Frank Carlucci informava que Costa Gomes tinha respostas mais suaves que Vasco Gonçalves, este era duro no trato, mas um homem de acção e que tinha mais poder do que o Presidente Costa Gomes, embora C.G. tivesse mais apoio quer de militares, quer da opinião pública. E continua dizendo que considera que Vasco Gonçalves está interessado no "caminho para o socialismo e na justiça social" e que queria expandir contactos com os soviéticos e os seus aliados com o Terceiro Mundo e manter os laços com a NATO.
Nesta altura estava Francisco Franco no poder em Espanha e os E.U. sugeriram a Espanha para invadir Portugal.
Ainda Carlucci falando sobre V.G: "é orgulhoso e reagirá desfavoravelmente a qualquer atitude condescendente, ao mesmo tempo que respeita a firmeza e argumentos convincentes".
V.G. acha que a imprensa  norte-americana distorce a situação no país e que os americanos estão cegamente obcecados pelo anti comunismo e dá crédito às acusações de uma potencial intervenção norte-americana, encoberta ou não.
Carlucci considerava que V. G reagiria negativamente se a delegação norte-americana desse um sermão sobre a situação política interna e dá de conselho a Ford e Kissinger que ao falarem com VG não abordassem a política interna mas se focassem na externa, na segurança da Europa, dizer que a preocupação americana estava tão só na possibilidade deste governo enfraquecer a Nato, blá, blá, blá.
Em 13 de Julho/75, em Aveiro, o bispo D. Manuel Trindade, exige o fim da ocupação da Rádio Renascença e pede aos cristãos adormecidos que acordem. Entretanto Otelo acaba de regressar de Cuba, onde Fidel o recebeu com honras de Estado e discursou no comício do 22º aniversário da Revolução Cubana ( único estrangeiro).
De 29/8 a 5 de Agosto/75, registam-se cinco actos de sabotagem ou atentados à bomba, dez assaltos a sedes de partidos de esquerda, quatro assaltos a sedes de sindicatos, e uma sede do PCP tinha sido incendiada e Costa Gomes ia a Washington submeter-se ao exame de Ford e Kissinger.
Veio o 28 de Setembro - reacção duma parte dos partidos de direita que fizeram a prova de Força.
Kissinger, considerava que havia uma ameaça do euro comunismo.
Em Outubro, Mário Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, informou Kissinger que os comunistas não conseguiram tomar totalmente conta do país.
Para Kissinger, Soares era um desses socialistas idealistas com pensamentos semelhantes a da Rússia de 1917 e  chamou-lhe mesmo Kerensky (ministro dos negócios estrangeiros russo em 1917).
 E Soares disse que não queria ser Kerensky ao que Kissinger retorquiu que Kerensky também não.
Costa Gomes no livro "O último Marechal" diz que Kissinger foi muito agressivo com Portugal e que no fim do almoço que teve com ele lhe pediu para  telefonar directamente sempre que tivesse algum problema em Portugal.
Costa Gomes não se tornou um homem doa americanos, Mário Soares sim.
Carlucci pede ajuda norte-americana  para Portugal, já que seria a melhor garantia contra a tomada do poder do país pelos comunistas e Kissinger aceita.
Costa Gomes deixou o poder e tornou-se um activista do Conselho Mundial para a Paz.
Março de 1976 - Ministro as Finanças Salgado Zenha, vai discutir o reforço da assistência do pacote americano.
Vinte e cinco anos mais tarde, Mário Soares, num depoimento à RTP confessa que conspirou com a Igreja contra os comunistas nesse Verão quente.
Havia a hipótese de  soviéticos virem a apoiar economicamente Portugal através de  reforçadas importações (têxteis e vinho) portuguesas, mas os E.U. desconfiavam dos militares de um país em revolução. Na prática, os E.U. receavam actos de espionagem por parte dos portugueses a favor da União Soviética e que Portugal fosse o jogo de Moscovo.(conforme são julgam os outros, digo eu).
Kissinger receava o contágio comunista a Itália, Espanha ou à Grécia.
Em Outubro de 1974 Kissinger fez um ultimato a Portugal para deixar de participar nas reuniões de planeamento nuclear da Aliança e Spínola tinha aceite incluir comunistas no I Governo Provisório.
Melo Antunes mais tarde defendeu a demissão de Vasco Gonçalves.
Aldo Moro dizia que a troica  (Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Otelo) era muito perigosa,  defendia Mário Soares e opunha-se à entrada de governos de esquerda na Europa.
K. dizia estar em contacto com líderes militares portugueses que estiveram contra o golpe (talvez por desconfiar de Carlucci, digo eu) e que o informavam que Vasco Gonçalves estava ao lado da União Soviética.
Para Kissinger, o todo poderoso secretário de estado de Gerald Ford, Portugal nos anos 80 teria um governo de comunistas.
Entretanto os líderes soviéticos em 1975 admitiam uma intervenção ocidental em Portugal, Brejenev terá dito em Julho/1975 que não compreendia por que motivo os países  ocidentais não tinham intervindo ao 1º sinal de sobressalto e acrescentou que isso teria sido aceite pelos soviéticos, apesar de o poderem condenar publicamente porque Portugal "pertence" ao lado ocidental.
Rui Mateus, responsável pelas Relações Internacionais do PS com Mário Soares, garante que os planos da Secreta Britânica tinham a concordância da CIA e explicou em detalhe o que era "o plano global" dos britânicos ou o "plano Callaghan. "Esses planos passavam por um apoio logístico aeronaval no Norte de Portugal aos militares anti comunistas e às forças democráticas lideradas pelo PS".
Os soviéticos procuravam  com a conferência de Helsínquia um modo de substituir a Nato por um sistema europeu de segurança colectiva através do qual podiam minar a coesão do Ocidente.
K. mantinha oficialmente a neutralidade quanto aos Açores mas encorajava e estimulava os independentistas açorianos. Kissinger dizia que VG só não se filiava no PCP para poupar o dinheiro das quotas.
Tendo em conta os acordos bilaterais, Portugal está no grupo de Países como a Dinamarca, Grécia, Itália e Holanda que aceitam o uso de armas nucleares nas suas bases se utilizadas de acordo com os planos da NATO.
As Lages são um bom substituto às bases de Espanha.
Em 1966 um bomba atómica caiu intacta, em Palomares, Espanha. A Dinamarca é o primeiro país a anunciar a recusa da instalação de armas atómicas.


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