quinta-feira, 29 de março de 2012

A VIDA. VIDAS

Sobe, reluz, fascina, apaga-se, cai como os foguetes.
É torta a vida, morde, dilacera e, se o muito a muitos dá, a muitíssimos nega o pouco.
Há viventes que muito ensinados pela vida fogem às questões.
Às vezes a V. vira-se do avesso, é como uma espécie de fotografia de pernas para o ar e tanto o fuso  dos abetos investe com o céu como fura pela água: é a água de céu, como o céu é de água.
Também as há sentidas com séculos de solidão, acompanhadas pela ideia de ter morrido antes de morrer.
E o pior mesmo é quando temos os nossos mortos para cuidar. Se eles soubessem as saudades que nós temos, voltavam à vida nem que fosse por mais um dia.
Outras parecem-se a uma guerra de conquista  sem atingirem o seu objectivo.
Há as impacientes e que alimentam esperanças generosas; as que nos oferecem alguns cenários de teatro, frágeis e coloridos.
No início tudo é bom, parece-se  com um trigal, com flores e alimento, depois vai murchando e fazendo o seu tempo.
Enquanto há trabalho e para aqueles que ainda o possuem e conseguem reger bem o stress, misturando-o habilmente com o prazer, a vida vai-se fazendo, agora para os que têm dificuldade no desempenho correcto das pequenas tarefas diárias, a vida é um verdadeiro stress.
Há V. que ultrapassam todos os obstáculos, são as corredoras de fundo; há as que lançam  pedidos de socorro, através do seu comportamento, mas nem sempre obtêm sucesso; há as que fogem dos problemas, quando não há diálogo entre o presente e o futuro principalmente e, quando as dores de alma se tornam o sofrimento principal.
Há existências monótonas, mais que difíceis e há quem as prefira mesmo assim.
Há V. incompreendidas e zangadas, magoadas consigo próprias, ao ponto de se zangarem com os outros também.
Há as que se lançam conscientemente na destruição e as bem conseguidas que quando se vêem num beco sem saída acabam sempre por encontrar uma solução prática.
V. com humores sombrios que  pensam não ter sido nada durante milhões de anos antes de nascer.
Há as dissolvidas, esquecidas que estão do que para trás viveram.
V. que não lhes apetece fazer nada, que não dão conta de nada.
A V. com risco, é entusiasta, perdido o gosto do risco, a vida murcha.
Há Vidas que são teias e outras tapeçarias. 
                                                                                                     e
há também vidas que não têm vida própria e se alimentam de restos de vidas de outros.


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