domingo, 18 de março de 2012

VIVER É DIFÍCIL

Tudo muda muito rapidamente.
Não há segurança por muito tempo, a não ser para os ricos.
O tempo das seguranças acabou. Ninguém está seguro de nada.
Hoje a segurança é uma peça de museu ou uma roupinha que passa de moda.
Às vezes, ser vagabundo é ofício que compensa, mas só às vezes, embora alguns pensem que é para sempre, palavra difícil de pronunciar.
Nada permanece, nem um casamento, nem um emprego, nem uma casa, nem um país, nada é para a Vida.
Há uma coisa porém que permanece que são as nossas raízes, a nossa infância. Por muitos caminhos percorridos, a nossa infância está lá, imutável à nossa espera e, como isso é reconfortante.
Até o conceito de amigo se alterou com as redes sociais. Chama-se amigos a toda a gente e àqueles que são amigos de ocasião confidenciam-se coisas que não se contam aos amigos de longa data.
Aprecia-se gente que não tem valor nenhum, apenas porque é "figura pública" que quer dizer aparecer muitas vezes nos meios de comunicação social. Nunca o TER alcançou níveis tão elevados comparativamente ao SER.
Os jovens vivem como se reformados fossem, quando deviam estar a contribuir para o bem comum. Um país que desperdiça assim esta mão de obra não tem futuro.
Muitos deles que tiveram que baixar bruscamente os seus graus de expectativa entram em depressões complicadas.
A obediência tornou-se um modo de vida.
As pessoas protegem-se de imaginar, preferem nem pensar. Cada vez mais as relações são mais violentas, quase como únicos excitantes.
As mulheres têm filhos já quase a chegar ao meio da idade, não há herdeiros.
Há muito pouca cultura, mas sobram opiniões e muitos imitadores de opiniões e a "sociedade" vai rolando assim, até se estatelar completamente.
A imprensa também dá opiniões, não dá noticias.
Há cada vez mais gente, tal como os garimpeiros, a  tentar descobrir ouro, mas estes quase sempre o encontram, em especial, se escrevem por encomenda.
As cidades deslocaram-se para dentro dos Shoppings e ficaram desertas. As pessoas são atraídas para aqueles castelos cheios de cintilações e desejos.
Para atraírem gente às cidades, Câmaras há que realizam feiras, para consolar os pobres... de espírito.
O remorso deixou de existir porque deixaram de existir muitos princípios e valores.
As carreiras são feitas na base das intrigas e maldicências, para além de outros favores mais espúrios ainda.
Faz-se o dia da lampreia em casa de quem pode ou pede emprestado, para o chefe promover e tudo é paradoxalmente fraterno, é tudo uma "família" e até as férias se fazem em e na camaradagem.
Nada é o que parece e as referências, as linhas da esquadria, deixaram de existir.
Há classes que desapareceram e nem elas próprias sabem.
Os mendigos são burgueses mesmo sem o querer ser e até os professores universitários têm que estar nas filas dos subsídios de desemprego.
A inaptidão  e a corrupção são vistas como novas oportunidades, já para não falar nos offshores (as instituições legais de fuga ao fisco) e muitos daqueles que não tiveram essa oportunidade aspiram a tê-la.
Ser próspero é o bem maior e, praticar todos os abusos até lá chegar não está ao alcance de todos.
Já ninguém se importa com os erros da boçalidade de todas as espécies.
Tudo é tolerado se tiver um carrão de estalo à porta e um tanque feito piscina em casa.
Os vocábulos, as frases inteiras, até as queixas dos vigaristas, dos corruptos, são na maioria das vezes as mesmas que  as das pessoas honradas e honestas que ainda existem e continuam a ser a maioria. Os obedientes, os escravos de todos os matizes, são petulantes.
A vida é difícil e quem disser o contrário pode negar as guerras e os filmes de terror, mas tal como o casamento não é para toda a gente, a vida não é difícil para toda a gente.   

Sem comentários: