quarta-feira, 21 de março de 2012

UMA QUESTÃO DE FÉ?


Não vai à Igreja o meu povo
Mas é povo de fé.
Aprendeu a viver
No fundo das bombas dos quintais
Aprendeu a respirar
Abaixo da linha de água
E para não enlouquecer
Vira(va)-se para o lado de dentro.
O meu povo agradece por estar vivo
Discute em voz alta
Diz mal do governo
deste, do anterior
e do que há-de vir
Como forma de estar vivo.
Como para estarmos vivos
Seja preciso ouvir-nos uns aos outros.
Fazemos silêncio quando não devemos
E quando devemos não saímos à Rua.
Não somos felizes
Não temos projectos
E parece estarmos além disso.
Nas tardes quentes
Gostamos de ficar assim nas esplanadas
Ou nas mesas das tabernas das aldeias
A ver apenas o tempo envelhecer.
Os nossos rostos parecem
Atravessados pela luz das profecias
Como se não vivêssemos onde estamos
Ou não fossemos contemporâneos
Do tempo que vivemos
Às vezes dizemos
"Quero ser estrangeiro"
Mas chegamos quase sempre tarde.
Dizemos não temer os piratas
E estamo-nos a preparar
Para obter os seus códigos de honra
E confundimos ética e estética
E queremos lucros mais próximos
E admiramos os naufrágios.
Quero a tesoura
Para cortar estas sílabas
Estas palavras
Quero continuar a temer os piratas
Com olho de vidro, perna de pau e cara de mau
A não os ver vestidos de banqueiros
Governantes, senhores de Bruxelas
Ou presidentes de empresas públicas
QUERO O MEU PAÍS DE VOLTA
Não quero que lhe cortem as raízes
Quero mudar o calendário
Limpar as gorduras aos sempre cheios
Limpar o lixo
Amo-te povo
Não te deixes morrer

Pela

2 comentários:

lua vagabunda disse...

http://youtu.be/HEzbU7AGu38

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Obrigada Manela pela viva e actuante colaboração. Ab