sexta-feira, 2 de março de 2012

PRIMAVERA NO INVERNO

Hoje lembrei-me de Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa que não é propriamente com quem mais me identifico). Ele dizia: "A sabedoria consiste em contentar-se cada um com o espectáculo do mundo..." e de facto, ontem apreciei a beleza em estado puro. As magnólias floridas, as amendoeiras em flor, as prunus ou ameixoeiras-de-jardim engrinaldadas, japoneiras de todas as cores com as suas camélias vistosas, carnudas e belas, laranjeiras aromáticas, margaridas, angélicas, violáceas, amores-perfeitos bem cheirosos a rirem-se para mim, juntamente com os pássaros a cantarem. Assiti a um concerto fabuloso.
Ontem, qual rosa emurchecida, quase fui feliz. Estava um ar húmido, nada convidativo para mim, mas mesmo assim celebrei a Primavera.
As primeiras a darem-me os bons dias foram as flores do alecrim, à saída  do portão, com as suas florzinhas azul-alilazadado, mas ao longo do dia encontrei tudo colorido, do rosa ao branco, do azul ao amarelo e ao laranja, passando pelo vermelho.
A Primavera é mesmo a renovação da esperança.
Esta estação do ano acrescenta sempre mais valias -Alegria, renovação, colorido à vida. De facto, este ano não nos podemos queixar de Inverno rigoroso, porque não o houve, se bem que morressem mais velhos com a gripe do que nos anos anteriores, mas apenas devido aos criminosos que nos governam quererem poupar até com a morte e toda a gente com a luz, por não haver dinheiro para a pagar. Mesmo escasseando a água a floração está aí, não se atrasa.
Estes ciclos de vida são verdadeiramente maravilhosos.
A natureza não nos defrauda. Quando converso com ela, que  é muito rápida a ouvir, a alma deixa a sua fortaleza e abre as janelas. Tudo se ilumina e céu e terra comunicam entre si e todos recebemos gratuitamente uma dádiva que  se calhar não merecemos. Colhemos sempre um mar de Primaveras, mas não as semeamos.
Não há dúvida que a paisagem é um estado de alma.
Ouvi trechos de Bach e de Beethoven sentindo  o dia primaveril.
Ser feliz, ou melhor, ter momentos de felicidade, é também saber passar uma esponja sobre as tristezas e o que nos vai acontecendo. E tal como um lavrador que acarinha a terra, ontem apeteceu-me abraçar as árvores, acariciar as flores, enroscar-me na natureza.
A beleza multiplica-nos as forças, numa palavra, ontem fui lavrada pela Primavera e cumpri o dia e renasceu a esperança do recomeço.
Andarmos com Portugal e a Europa às costas é uma penitência, abraçarmos a Primavera e ela a nós, ajuda-nos a cumpri-la.




1 comentário:

Miabar disse...

Aí estão as chuvas de Março e também a natureza a renascer... dando-nos a certeza de que amanhã poderá ser diferente!