quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

AS ERVAS CONTINUAM A CRESCER

Vivemos o fim do Império nos anos 70, uns do lado de cá como eu, outros do lado de lá, das ex-colónias.
Há coisas em que somos os maiores, somos os maiores a remendar um país.
Vieram os emigrados das ex-colónias, os retornados assim chamados e nós, os que já cá estavam, demos-lhes espaço.
Eles vinham com imprestáveis solidões e nós demos-lhes lugares para se integrarem na administração pública, a maioria foi recebida aí.
O novo mundo, neste caso Portugal, nunca mais foi o mesmo. Portugal mudara e nós nem sabíamos muito bem o que fazer com esse novo mundo.
A maioria dos retornados integrou-se, mas todos nós continuamos com nuvens negras e tréguas no horizonte.
Hoje o 25 de Abril começa a cair no domínio das lendas.
Estamos outra vez no caos, de novo temos que inventar o futuro, mas a maioria de nós ainda não sabe.
Temos que ter opinião sobre o que dizemos. Precisamos de mudar de novo.
As pessoas duma maneira geral, estão distraídas, não percebem o que lhes está a acontecer.
Sabem que caem, que estão a cair cada vez mais, mas ainda a sensação que têm é a da queda quando se dorme, julgam que vai passar não fazendo nada. Não abrangem com o olhar as suas próprias vidas e a do país, ainda falam no 25 de Abril como se ele se pudesse remendar, como se existisse, ainda não deram conta que morreu.
Continuam com medo, o medo escorre-lhes e paralisa-as. Subcompreendem as coisas muito de vez em quando deixam que as ervas continuem a crescer e a vibrar ao vento.
Sempre fomos mais ou menos ressentidos e quietos.
Somos um povo agachado, um povo que fala muito e pensa pouco, mas que nos mobilizamos por uma grande causa, aconteceu com a Independência de Timor.
Execptuando estas grandes causas, improvisamos, improvisamos sempre e no fim da linha, caímos na mendicidade, choramos pelos outros, choramos muito, mas esquecemo-nos de chorar por nós próprios, embora quando o fazemos pelos outros o façamos também por nós próprios e na maioria dos dias mantemo-nos num silêncio infeliz de actos.
Vivemos com aquela frase sempre a bailar-nos na mente "não quero pensar nisso".
Evitamos, com cuidado clarezas, não nos convém de outro jeito, apagamo-nos e apenas existimos.
Existir já contém suficiente volúpia, sentimos.
Revemo-nos em partidos do poder e quando achamos que é preciso começar de novo, enovelamo-nos outra vez em zumbidos de memória e antes de voltar à grande natureza morta em que vivemos voltamos ao princípio, àquele princípio  em que as forças se enovelavam  e chamamos-lhe recomeçar.
Rugimos muito, bajulamos muito, mas pensar por nós dá muito trabalho, reunir palavras e pensamentos, organizá-los, expô-los como ideias e opiniões é demasiado cansativo.
Falta-nos um qualquer fluido para nos fundir isto tudo, argamassar as raivas contidas, os zumbidos do pensamento e passar à fase seguinte.
Parece que vivemos cansados, a maioria de nós muito cansada, uns de nada fazerem, que são a maioria outros, exactamente do contrário, a minoria.
É algo como se estivéssemos no meio de um pensamento de cujo início não nos recordamos e até as raivas se esfarrapam todas.
Se fossemos um coro e nos juntassem recomeçaríamos dissonantes e violentos.
Às vezes penso que o nosso principal mal é mesmo nós próprios, mas isto fica para outra vez já que me chegou aquela leve emoção no corpo que me dita a necessidade de parar.

2 comentários:

GL disse...

Começa a ser recorrente, mas subscrevo, sem reserva, o retrato que traça de nós.
Apagados, conformados, resignados, assim vamos cumprindo o caminho que nos impõem. Engolimos raivas, revoltas, ódios, mas agir? Respondemos quando solicitados. Falta-nos espiríto aglutinador, perdemos a capacidade de lutar contra ditames que - sabemo-lo bem - nos estão a destruir.
Porquê este estado letárgico? Porquê esta apatia? Porquê o "não queremos pensar nisso", como refere?
A política de saúde, um caos, o mesmo para a educação, justiça, etc.
Cultura? Isso serve para quê?
Este é o novo mundo que nos impõem: paupérrimo de tudo.
E nós? Calamos, e calamos, e calamos.
Até quando? Uma interrogativa que gostava albergasse uma réstea de esperança.
Abraço.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

O bloguinho e eu elegemo-la a nossa amiga assídua, portanto já sabe - somos os seus amigos diários.
Quanto a "nozes" os portugueses, somos como o país, muito variados como sabe, mas algo comodistas me parece. Achamos sempre que dá trabalho, que parece mal, que não vale a pena e, depois temos no sangue aquela coisa: respeitinho é muito lindo. Neste momento, ainda não saímos da fase direita e esquerda, que como bem sabemos já nem sequer existe. Basta virarmo-nos para o lado contrário e fica tudo desorientado e há muita, mas mesmo muita impotência e mais que isso a interiorização dessa impotência, isso é o que nos trama verdadeiramente, para além de não termos lideranças capazes e, não digo fortes, porque não é disso que se trata, mas uma liderança para toda a oposição, por exemplo. Todos querem ter a sua cotita de mercado e a direita ou que se diz ser direita, uma catrefada de salafrários, avança feliz e contente. No meu ponto de vista, a esquerda é que tem sido traidora a si própria por ambicição, mas penso mesmo que entramos num longo período preto da Civilização, mudamos de época. Houve a Idade Média também não foi e outras; nós sozinhos, refiro-me aos povos, português, francês, italiano, etc, não conseguimos mudar nada, temos a bota do novo fascismo europeu. A Europa é corrupta, se bem que seja ainda o tal Continente onde se quer viver, senão não haveria povos a quererem entrar para a C.E.E.. Mudamos de Época, estamos em fase de transição, sabemos lá para quê e não conseguimos dar a volta a isto, porque não depende só de nós, mas podemos fazer um remendo aqui e ali e esse não podemos nem devemos abdicar. É isto que eu penso, muito sinceramente. Um Abraço.